Por Kevin Carson
As
linhas gerais do argumento de Ludwig von Mises do cálculo racional
são bem conhecidas. Um mercado para fatores de produção é
necessário para precificar fatores de produção de forma que um
planejador possa alocá-los racionalmente. O problema não tem nada a
ver com o volume de dados nem com problemas de repartição. A
questão é ao invés, como Peter Klein coloca, é "como o
diretor sabe o que falar para o comissário fazer?".
Esse
argumento do cálculo pode ser aplicado não só para uma economia
centralmente planificada, mas também para o planejamento interno das
grandes corporações sob o intervencionismo, ou capitalismo de
Estado. (Por capitalismo de Estado eu me refiro aos meios através
dos quais, como Murray Rothbard disse, "nosso Estado corporativo
utiliza o poder coercivo de tributação tanto para acumular capital
corporativo quanto reduzir custos corporativos," além de
cartelizar mercados através de regulações, impingir direitos de
propriedade artificiais como "propriedade intelectual", e
proteger de outras formas o privilégio contra a competição).
Rothbard
desenvolveu o argumento do cálculo econômico bem dessa forma. Ele
argumentou que quanto mais removida a precificação interna de uma
corporação dos preços reais de mercado, mais a alocação interna
de recursos seria caracterizada pelo caos calculacional.
O
argumento de Mises do cálculo econômico pode ser aplicado para
grandes corporações — ambas sob o capitalismo de Estado e em alguma
medida sob o livre mercado — de outra forma não levada em conta por
Rothbard. A causa básica do caos calculacional, como Mises o
compreendia, era a separação do conhecimento técnico do
empresarial e a tentativa de tornar as decisões de produção
baseadas apenas em considerações técnicas, sem incluir
considerações empresariais como a precificação de fatores de
produção. Mas o princípio também funciona do outro lado: decisões
de produção baseadas unicamente nos preços de insumos e produtos,
sem levar em conta os detalhes da produção (a prática típica dos
MBAs de considerar apenas as finanças e o marketing, enquanto tratam
o processo de produção como uma caixa preta), também resultam em
caos calculacional.
O
foco principal desse artigo, entretanto, é o argumento do cálculo
econômico de Mises sob a luz da informação dispersa. Hayek, em "O Uso do Conhecimento na Sociedade",
levantou um novo problema: não apenas a geração ou fonte de dados,
mas o próprio volume de dados a serem processados. Ao proceder
assim, ele é comumente compreendido como tendo aberto um segundo
front na guerra de Mises contra o planejamento estatal. Mas de fato
seu argumento foi quase tão prejudicial quanto o de Mises para os
coletivistas.
"Rothbard argumentou que quanto mais removida a precificação interna de uma corporação dos preços reais de mercado, mais a alocação interna de recursos seria caracterizada pelo caos calculacional."
Mises
minimizou a importância da informação dispersa em suas próprias
críticas ao planejamento estatal. Ele negava qualquer correlação
entre burocratização e larga escala em si. A burocracia assim era
uma abordagem particular baseada em regras para o processo de
decisão, em contraste com o comportamento empreendedor guiado pelo
lucro. A firma privada, então, era por definição imune do problema
da burocracia.
Ao
argumentar dessa forma, ele ignorou os problemas de informação e
coordenação inerentes à larga escala. A grande corporação
necessariamente distribui o conhecimento relevante para decisões
empreendedoras informadas entre vários departamentos e
sub-departamentos até que o custo de agregar tal conhecimento
ultrapasse os benefícios da larga escala.
Tentando
como quisesse Mises não seria capaz de imunizar a corporação
capitalista do problema da burocracia. Não se pode definir a
burocracia como inexistente, ou superar o problema do conhecimento
disperso, simplesmente ao usar a palavra "empreendedor".
Mises tentou reduzir o caráter burocrático ou não burocrático de
uma organização a um simples assunto de seus objetivos
organizacionais ao invés de seu funcionamento. A motivação do
empregado de uma corporação, do CEO até o peão, por definição
será a busca pelo lucro; sua vontade estará em harmonia com a do
acionista porque ele pertence à organização do mesmo.
Ao
definir metas organizacionais como "buscadoras de lucro",
Mises — assim como os neoclássicos — tratou os funcionamentos
internos da organização como uma caixa preta. Ao tratar as
políticas internas da corporação capitalista como inerentemente
movidas pelo lucro, Mises simultaneamente tratou o empreendedor como
um ator indivisível cuja percepção e sentimentos permeiam toda a
organização. O empreendedor de Mises era uma onipresença
preenchedora, guiando as ações de cada empregado do CEO ao zelador.
Ele
via a separação da posse do controle, e os problemas de
conhecimento e repartição resultantes dela como largamente
inexistentes. A invenção do método das partidas dobradas, que
tornou possível o cálculo de lucros e perdas em cada divisão
separada do negócio, "aliviou o empreendedor da necessidade de
se envolver com muitos detalhes", escreve Mises em AçãoHumana.
A única coisa necessária para transformar todo empregado de uma
corporação, de CEO para baixo, num perfeito instrumento de sua
vontade seria a habilidade de monitorar o balancete de qualquer
divisão ou escritório e despedir o funcionário responsável pela
tinta vermelha. Mises continua:
É
o sistema contábil de partidas dobradas que torna possível o
funcionamento de um sistema gerencial. Graças a esse sistema
contábil, o empresário tem condições de separar o cálculo de
cada setor da empresa de maneira a poder determinar sua participação
na empresa como um todo... Nesse sistema de contabilidade comercial,
cada seção de uma empresa representa uma entidade completa, como se
fosse um negócio independente. Supõe-se que cada seção "possua"
uma determinada parte do capital da empresa, que compre e venda a
outras seções, que tenha suas próprias receitas e despesas, que
seus procedimentos resultem em lucro ou prejuízo, imputáveis à sua
própria direção independentemente do resultado das outras seções.
Desta forma, o empresário pode atribuir à gerência de cada seção
uma grande margem de autonomia. A única recomendação que faz a
alguém encarregado de dirigir um serviço específico é a e que, em
sua gestão, realize o maior lucro possível. Um exame da
contabilidade mostra em que medida os gerentes foram bem sucedidos na
realização desse objetivo. Todo gerente e subgerente é responsável
pelo bom funcionamento de sua seção ou subseção... Seu próprio
interesse o impele a dedicar a maior atenção e empenho à condução
da seção a seu cargo. Se incorrer em perdas, será substituído por
outra pessoa de quem o empresário espera uma melhor performance; ou
então a seção será desativada.
Mercados
de capital como mecanismos de controle
Mises
também identificou mercados de capital externos como um mecanismo de
controle limitando a ponderação gerencial. Sobre a concepção
popular dos acionistas como beneficiários passivos face ao controle
gerencial, ele escreveu:
Essa
doutrina ignora completamente o papel que os mercados de capitais e
monetário, a troca de ações e títulos, os quais uma expressão
idiomática chama apenas de "mercado", desempenha na
direção da firma corporativa... De fato, as mudanças nos preços
de... ações e títulos corporativos são os meios aplicados pelos
capitalistas para o controle supremo do fluxo de capital. A estrutura
de preços como é determinada pelas especulações nos mercados
monetário e de capitais e nas grandes negociações de mercadorias
não apenas decide quanto capital está disponível para a conduta de
cada corporação; cria um estado de coisas ao qual os gerentes devem
ajustar suas operações detalhadamente.
Dificilmente
alguém poderia imaginar o mais arrogante dos planejadores centrais
estatais sustentando uma visão mais otimista do potencial utópico
do processamento de números.
"Ao definir metas organizacionais como "buscadoras de lucro", Mises — assim como os neoclássicos — tratou os funcionamentos internos da organização como uma caixa preta."
Peter
Klein afirmou que isso prenunciava o tratamento de Henry Manne do
mecanismo pelo qual os empreendedores mantém controle da direção
corporativa. Enquanto exista um mercado para controle de corporações.
A discrição da gerência será limitada até a ameaça de tomada
hostil. Apesar de a gerência possuir um grau amigável de autonomia
administrativa, qualquer desvio significante da maximização de
lucros irá reduzir os preços das ações e levar o perigo de tomada
externa à corporação.
A
questão, de qualquer forma, é se aquelas decisões de investimento — sejam elas gerência veterana alocando capital dentre as divisões
de uma corporação ou capitalistas financeiros externos — possuem a informação necessária para avaliar o funcionamento
interno das firmas e tomar decisões apropriadas.
Até
onde a alocação financeira do mundo real, do capitalismo de Estado,
difere da gravura de Mises é sugerido pela investigação de Robert
Jackall em Moral Mazes sobre o funcionamento interno de uma
corporação (especialmente as notórias práticas de "fome"
ou "ordenha", uma organização com o objetivo de inflar os
aparentes lucros de curto prazo). Se um lucro aparente é
sustentável, ou um efeito conjunto ilusório de destruição das
boas sementes [1], é frequentemente um julgamento melhor feito por
aqueles diretamente envolvidos na produção. O puro cálculo
monetário daqueles no topo não é suficiente para uma avaliação
válida de tais perguntas.
Um
grande problema com o modelo de Mises de planejamento central
empreendedor de partidas dobradas é o seguinte: são normalmente as
restrições irracionais impostas por alguém do topo que resultam em
tinta vermelha nos níveis mais baixos. Mas aqueles no topo da
hierarquia se recusam a reconhecer as amarras duplas nas quais
colocam seus subordinados. "Negação plausível", o fluxo
descendente de responsabilidade e o fluxo ascendente de crédito, e a
prática de atirar no mensageiro por trazer notícias ruins, são o
que lubrifica as engrenagens de qualquer grande organização.
Quanto
aos investidores externos, os participantes do mercado de capitais
estão ainda mais separados que a gerencia dos dados que necessitam
para valorar a eficiência do uso de fatores dentro da "caixa
preta". Na prática, tomadas hostis tendem a gravitar ao redor
de firmas com baixa bagagem de dívidas e aparente pequenas margens
de lucro de curto prazo. Os assaltantes corporativos são mais
capazes de cheirar sangue quando há a possibilidade de realizar uma
aquisição com novas dívidas e privá-la de seus ativos em troca de
retornos de curto prazo. A melhor forma de evitar uma tomada
hostil, por outro lado, é realizar uma organização com dívidas e
inflar os retornos de curto prazo "ordenhando".
Outro
problema, sob a perspectiva daqueles no topo, é determinar o
significado da tinta preta ou vermelha. Como o investidor de
larga escala distingue perdas causadas pela gerência veterana ao
usar o sistema em favor de interesses próprios à custa da
produtividade da organização de perdas que ocorrem como efeitos
normais do ciclo de negócios [2]? De todos os que rejeitavam a
abordagem econométrica neoclássica precisamente porque as variáveis
eram muito complexas para serem controladas, Mises deveria ter
antecipado tais dificuldades.
A
"brincadeira" gerencial pode ser muito bem uma resposta
puramente defensiva a incentivos estruturais, uma forma de desviar a
pressão daqueles que acima cujo único interesse é maximizar lucros
aparentes sem levar em conta como poupanças de curto prazo podem
resultar em perdas de longo prazo. As práticas de organização de
"fome" e "ordenha" que Jackall tanto explorou — adiar custos de manutenção necessários, deixar o equipamento e a
planta apodrecerem, e coisas do tipo, para inflar o balancete
trimestral — resultam dessa própria pressão, tão irracional quanto
as pressões que os gerentes de negócios Soviéticos enfrentavam do
Gosplan.
Cultura
Compartilhada
O
problema é complicado quando a própria cultura organizacional — determinada pelas necessidades do sistema gerencial — é
compartilhada por todas as corporações numa indústria de
oligopólio induzido pelo Estado, de forma que o mesmo padrão de
tinta vermelha apareça em toda a indústria[3]. Ele é complicado
ainda mais quando a atmosfera geral de capitalismo de Estado dá
condições às corporações numa indústria cartelizada para
operarem no preto apesar do tamanho excessivo e cultura interna
disfuncional. Se torna impossível fazer uma estimativa válida de
porque a corporação é afinal lucrativa: será que a tinta preta é
resultado da eficiência ou de algum grau de proteção contra
punições competitivas à ineficiência? Se as decisões dos MBAs de
se engajarem em tomada e ordenha de ativos, com interesses em
lucratividade a curto prazo, resultam em danos de longo prazo à
saúde da empresa, elas serão mais capazes de serem incentivadas do
que censuradas pelos investidores e superiores. Afinal, eles estavam
agindo de acordo com a sabedoria convencional contida no Grande
Manual do MBA, então não poderiam ter sido eles que causaram
sua desvalorização abrupta. Devem ter sido manchas solares ou algo
assim.
"Como o investidor de larga escala distingue perdas causadas pela gerência veterana ao usar o sistema em favor de interesses próprios à custa da produtividade da organização de perdas que ocorrem como efeitos normais do ciclo de negócios?"
De
fato, a comunidade financeira algumas vezes censura transgressões às
normas da cultura corporativa mesmo quando elas são bem sucedidas
segundo medidas convencionais. As ações da Costco caíram de valor,
apesar da companhia ter sido melhor que a Wal-Mart nos lucros, graças
a uma resposta à publicidade adversa na comunidade empresarial sobre
seus salários acima da média. O analista Bill Dreher do Deutsche
Bank lembrou debochantemente: "Na Costco, é melhor ser um
empregado ou freguês do que um acionista". Entretanto, no mundo
dos investimentos baseados na fé, a Wal-Mart "continua a
princesa da Rua, a qual, assim como a Wal-Mart e muitas outras
companhias, acredita que os acionistas estão mais bem servidos se os
empregadores fizerem tudo o que puderem para cortar custos, incluindo
custos de trabalho". (Business Week Online, 12 de Abril
de 2004).
Por
outro lado, a gerência pode ser caprichosamente recompensada por
derrubar uma corporação, enquanto se acredite que se esteja fazendo
tudo certo de acordo com as normas da cultura corporativa. Numa
história do New York Times que Digg aptamente intitulou "CEO
da Home Depot ganha 210 milhões de dólares de multa rescisória por
ser ruim em seu emprego", foi noticiado que o CEO Robert
Nardelli, prestes a deixar a companhia, recebeu um grande pacote de
desligamento apesar de sua performance terrível. É até bom que ele
não tenha aumentado muito os salários dos empregados, ou então ele
estaria comendo numa cozinha pública.
Como
você pode esperar, os suspeitos usuais vieram para defender a honra
de Nardelli. Um artigo de Alan Murray no Wall Street Journal
notou que ele tinha "mais do que dobrado... os ganhos".
Mas
Tom Blummer, do BizzyBlog, cujas fontes por razões óbvias preferem
se manter anônimas, mostrou alguns fatos inconvenientes sobre como
Nardelli alcançou tais ganhos crescentes:
- Sua consolidação de compras e muitas outras funções em Atlanta vindas de várias regiões fizeram compradores perderem contato com seus vendedores...
- Demitir pessoas com conhecimento e experiência em favor de novatos desinformados e funcionários de meio período reduziu a folha de pagamento bastante, mas eventualmente afastou os clientes, e deu a companhia uma muito bem merecida reputação por realizar serviços medíocres...
- Nardelli e seus asseclas modificaram qualquer contabilidade, compra, e deram qualquer "jeitinho" que podiam para manter os números apresentáveis, enquanto deixavam o negócio se deteriorar.
Num
comentário seguinte direcionado a mim pessoalmente, Blummer forneceu
esse pedaço adicional de informação:
Eu
descobri então que Nardelli, nos últimos meses antes de ir embora,
tirou todo o centro de compras de Atlanta e moveu para... a Índia — tudo para conseguir terceirização estrangeira.
Me
disseram que "fora de contato" não é nem o começo para
descrever como está agora entre as lojas da Home Depot e o setor de
compra, e entre o setor de compra e seus fornecedores.
Não
só há uma barreira de linguagem, mas o setor de compras da Índia
não conhece a "linguagem" do hardware americano — ou mesmo
metade das coisas que as lojas e fornecedores aqui descrevem.
Dizem-me
que uma grande quantidade de tempo, dinheiro, e energia está sendo
desperdiçada — tudo em nome do que de todo jeito era apenas uma cota
bônus por cortar funcionários e fazer as despesas de G&A
(gerais e administrativas) parecerem baixas ("parecerem"
baixas porque as despesas foram repassadas para as lojas e
fornecedores).
Mais
do que uma pessoa notou a similaridade, em seus efeitos distorcivos,
dos incentivos dentro do sistema de planejamento estatal Soviético e
a economia corporativa Ocidental. Já notamos a pressão sistêmica
para criar a ilusão de lucros de curto prazo minando a produtividade
a longo.
"Mais do que uma pessoa notou a similaridade, em seus efeitos distorcivos, dos incentivos dentro do sistema de planejamento estatal Soviético e a economia corporativa Ocidental."
Considere
a previsão de Hayek de desenvolvimento irregular, irracionalidade, e
má alocação de recursos numa economia planificada ("Socialist
Calculation II: The State of The Debate")[4]:
Não
há razões para esperar que a produção pare, ou que as autoridades
achem dificuldades em utilizar de alguma forma todos os recursos
disponíveis, ou mesmo que o produto seja permanentemente inferior ao
do período pré-planejamento... [Devemos esperar] o desenvolvimento
excessivo de algumas linhas de produção ás custas de outras e o
uso de métodos que são inapropriados sob tais circunstâncias.
Devemos esperar super-desenvolvimento de algumas indústrias a um
custo o qual não é justificado pela importância de seu crescente
produto e ver não checada a ambição do engenheiro de aplicar seu
último desenvolvimento em algum lugar, sem levar em conta se é
economicamente apropriada à situação. Em muitos casos o uso dos
métodos mais recentes de produção, os quais não teriam sido
aplicados sem planejamento central, seriam então um sintoma de mal
uso de recursos ao invés de uma prova de sucesso.
Como
um exemplo ele citou a "excelência, de um ponto de vista
tecnológico, de algumas partes do equipamento industrial Russo, a
qual frequentemente impressiona o observador casual e é comumente
tomada como evidência de sucesso".
Para
alguém observando o desenvolvimento irregular da economia
corporativa sob o capitalismo de Estado, isso deveria inspirar um
senso de déjà vu. Categorias completas de bens e métodos de
produção foram desenvolvidos a um custo enorme, tanto pela
indústria militar ou pelo P&D subsidiado pelo Estado na economia
civil, sem levar em conta os custos. Subsídios à acumulação de
capital, P&D, e educação técnica distorcem radicalmente as
formas tomadas pela produção. (Sobre esses pontos ver os trabalhos
de David Noble, Forces of Production e América by Design.)
Fábricas enormes e centralização econômica se tornaram
artificialmente lucrativas, graças ao sistema de estradas
interestaduais e outros meios de externalizar custos de distribuição.
Irracionalidade
Penetrante
Também
descreve bem o ambiente de irracionalidade penetrante dentro
da grande corporação: contratação excessiva de gerentes [5] e
apropriação indébita; medidas de "corte de custos" que
dizimam recursos produtivos enquanto deixam os pequenos impérios da
gerência intactos; e a tendência a estender o domínio burocrático
enquanto reduz a manutenção e o suporte para obrigações
existentes. A alocação de recursos da gerência sem dúvida cria
valor de uso de algum tipo — mas sem nenhuma forma confiável de
estimar o custo de oportunidade ou determinar se o benefício foi
satisfatório.
Um
bom exemplo é um hospital, parte de uma cadeia corporativa, o qual
eu tive a oportunidade de observar em primeira mão. A gerência
justifica cortes de enfermeiras e técnicos como medidas de "corte
de custos" apesar dos custos crescentes com erros, panes e
infecções de MRSA (Estafilococus aureus resistentes a
meticilina) que excedem os supostos cortes. É claro que a
justificativa para "corte de custos" para demitir
profissionais da saúde não se estende à rede de patrocínio de
enfermeiras registradas ao Escritório de Enfermagem. Enquanto isso,
a gerência injeta dinheiro em projetos capitais inadequados (como
remodelar trabalhos que tornam as divisões menos funcionais,
ou a extremamente nova e cara unidade ACE [6] que nunca funcionou
porque foi muito mal projetada); um caro robô cirúrgico, comprado
mais pelo prestígio, que não faz nada que não poderia ser feito ao
contratar-se mais uma enfermeira. Mas a equipe de gerência
dificilmente terá que enfrentar alguma conseqüência negativa, uma
vez que os outros três maiores hospitais da região são tocados da
mesma forma.
"Categorias completas de bens e métodos de produção foram desenvolvidos a um custo enorme, tanto pela indústria militar ou pelo P&D subsidiado pelo Estado na economia civil, sem levar em conta os custos."
Tais
patologias, obviamente, não são resultados do livre mercado. Não é
dizer, é claro, que o porte em si não produziria custos de
ineficiência em algumas firmas que existiriam sob o laissez faire. O
problema do cálculo econômico (no sentido amplo, de forma que
inclua o problema Hayekiano do conhecimento) pode ou não existir até
certo ponto na corporação privada no livre mercado. Mas a fronteira
entre mercado e hierarquia seria definida no ponto em que os
benefícios de tamanho comecem a ser ultrapassados pelos problemas de
cálculo econômico. As ineficiências de planta grande e hierarquia
podem ser uma questão de grau, mas, como disse Ronald Coase, o
mercado determinaria se as ineficiências são justificáveis.
O
problema é que o Estado, ao reduzir artificialmente os custos de
plantas grandes e restringindo os malefícios competitivos do
problema do cálculo econômico, promove tamanhos maiores do que
seria o caso num livre mercado — e com eles problemas de cálculo
econômico num nível patológico. O Estado promove ineficiências de
larga escala e hierarquia além do ponto em que seriam justificáveis,
a partir de um ponto de vista de eficiência social, porque aqueles
recebendo os benefícios da larga escala não são os mesmos que
pagam os custos da ineficiência.
A
solução é eliminar as políticas estatais que criaram tal
situação, e permitir que o mercado puna a ineficiência. Para
chegarmos lá. Entretanto, alguns libertários precisam reexaminar
sua inquestionável simpatia pelos grandes negócios sendo "uma
minoria oprimida" e se lembrar que deveriam estar defendendo
mercados livres — não os ganhadores sob a atual economia
estatista.
Notas
do Tradutor
[1]
No original "eating the seed corn". A gíria "seed
corn" significaria algo como algo que rende bons frutos.
[2] Ciclos de negócios seriam "euforias" e "recessões" causadas pela expansão monetária.
[3] Na linguagem econômica, indústria quer dizer um setor. Por exemplo, a indústria têxtil, a indústria química. Cada empresa em específico é chamada de firma. Cada firma pode possuir uma ou mais unidades produtivas, chamadas de plantas.
[4] O livro do qual foi retirado o trecho a seguir se encontra disponível aqui. Em meu blogue também há artigos e links sobre os já citados problemas do conhecimento e do cálculo econômico.
[5] No original, "featherbedding".
[6] Uma unidade ACE (Acute Care for Elders Unit), ou traduzida, Unidade Para Cuidado Especial de Idosos, seria uma unidade médica especializada para idosos.
[2] Ciclos de negócios seriam "euforias" e "recessões" causadas pela expansão monetária.
[3] Na linguagem econômica, indústria quer dizer um setor. Por exemplo, a indústria têxtil, a indústria química. Cada empresa em específico é chamada de firma. Cada firma pode possuir uma ou mais unidades produtivas, chamadas de plantas.
[4] O livro do qual foi retirado o trecho a seguir se encontra disponível aqui. Em meu blogue também há artigos e links sobre os já citados problemas do conhecimento e do cálculo econômico.
[5] No original, "featherbedding".
[6] Uma unidade ACE (Acute Care for Elders Unit), ou traduzida, Unidade Para Cuidado Especial de Idosos, seria uma unidade médica especializada para idosos.
Kevin
Carson é associado sênior do Centerfor
a Stateless Society (c4ss.org).
Ele é um mutualista e anarco-individualista cujos trabalhos
incluem Studies
in Mutualist Political Economy, OrganizationTheory:
A Libertarian Perspective,
e The
Homebrew Industrial Revolution: A Low-Overhead Manifesto,
todos disponíveis online.