segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Cálculo Econômico na Comunidade Corporativa


Por Kevin Carson

As linhas gerais do argumento de Ludwig von Mises do cálculo racional são bem conhecidas. Um mercado para fatores de produção é necessário para precificar fatores de produção de forma que um planejador possa alocá-los racionalmente. O problema não tem nada a ver com o volume de dados nem com problemas de repartição. A questão é ao invés, como Peter Klein coloca, é "como o diretor sabe o que falar para o comissário fazer?".
Esse argumento do cálculo pode ser aplicado não só para uma economia centralmente planificada, mas também para o planejamento interno das grandes corporações sob o intervencionismo, ou capitalismo de Estado. (Por capitalismo de Estado eu me refiro aos meios através dos quais, como Murray Rothbard disse, "nosso Estado corporativo utiliza o poder coercivo de tributação tanto para acumular capital corporativo quanto reduzir custos corporativos," além de cartelizar mercados através de regulações, impingir direitos de propriedade artificiais como "propriedade intelectual", e proteger de outras formas o privilégio contra a competição).
Rothbard desenvolveu o argumento do cálculo econômico bem dessa forma. Ele argumentou que quanto mais removida a precificação interna de uma corporação dos preços reais de mercado, mais a alocação interna de recursos seria caracterizada pelo caos calculacional.
O argumento de Mises do cálculo econômico pode ser aplicado para grandes corporações  ambas sob o capitalismo de Estado e em alguma medida sob o livre mercado  de outra forma não levada em conta por Rothbard. A causa básica do caos calculacional, como Mises o compreendia, era a separação do conhecimento técnico do empresarial e a tentativa de tornar as decisões de produção baseadas apenas em considerações técnicas, sem incluir considerações empresariais como a precificação de fatores de produção. Mas o princípio também funciona do outro lado: decisões de produção baseadas unicamente nos preços de insumos e produtos, sem levar em conta os detalhes da produção (a prática típica dos MBAs de considerar apenas as finanças e o marketing, enquanto tratam o processo de produção como uma caixa preta), também resultam em caos calculacional.
O foco principal desse artigo, entretanto, é o argumento do cálculo econômico de Mises sob a luz da informação dispersa. Hayek, em "O Uso do Conhecimento na Sociedade", levantou um novo problema: não apenas a geração ou fonte de dados, mas o próprio volume de dados a serem processados. Ao proceder assim, ele é comumente compreendido como tendo aberto um segundo front na guerra de Mises contra o planejamento estatal. Mas de fato seu argumento foi quase tão prejudicial quanto o de Mises para os coletivistas.
"Rothbard argumentou que quanto mais removida a precificação interna de uma corporação dos preços reais de mercado, mais a alocação interna de recursos seria caracterizada pelo caos calculacional."
Mises minimizou a importância da informação dispersa em suas próprias críticas ao planejamento estatal. Ele negava qualquer correlação entre burocratização e larga escala em si. A burocracia assim era uma abordagem particular baseada em regras para o processo de decisão, em contraste com o comportamento empreendedor guiado pelo lucro. A firma privada, então, era por definição imune do problema da burocracia.
Ao argumentar dessa forma, ele ignorou os problemas de informação e coordenação inerentes à larga escala. A grande corporação necessariamente distribui o conhecimento relevante para decisões empreendedoras informadas entre vários departamentos e sub-departamentos até que o custo de agregar tal conhecimento ultrapasse os benefícios da larga escala.
Tentando como quisesse Mises não seria capaz de imunizar a corporação capitalista do problema da burocracia. Não se pode definir a burocracia como inexistente, ou superar o problema do conhecimento disperso, simplesmente ao usar a palavra "empreendedor". Mises tentou reduzir o caráter burocrático ou não burocrático de uma organização a um simples assunto de seus objetivos organizacionais ao invés de seu funcionamento. A motivação do empregado de uma corporação, do CEO até o peão, por definição será a busca pelo lucro; sua vontade estará em harmonia com a do acionista porque ele pertence à organização do mesmo.
Ao definir metas organizacionais como "buscadoras de lucro", Mises  assim como os neoclássicos  tratou os funcionamentos internos da organização como uma caixa preta. Ao tratar as políticas internas da corporação capitalista como inerentemente movidas pelo lucro, Mises simultaneamente tratou o empreendedor como um ator indivisível cuja percepção e sentimentos permeiam toda a organização. O empreendedor de Mises era uma onipresença preenchedora, guiando as ações de cada empregado do CEO ao zelador.
Ele via a separação da posse do controle, e os problemas de conhecimento e repartição resultantes dela como largamente inexistentes. A invenção do método das partidas dobradas, que tornou possível o cálculo de lucros e perdas em cada divisão separada do negócio, "aliviou o empreendedor da necessidade de se envolver com muitos detalhes", escreve Mises em AçãoHumana. A única coisa necessária para transformar todo empregado de uma corporação, de CEO para baixo, num perfeito instrumento de sua vontade seria a habilidade de monitorar o balancete de qualquer divisão ou escritório e despedir o funcionário responsável pela tinta vermelha. Mises continua:
É o sistema contábil de partidas dobradas que torna possível o funcionamento de um sistema gerencial. Graças a esse sistema contábil, o empresário tem condições de separar o cálculo de cada setor da empresa de maneira a poder determinar sua participação na empresa como um todo... Nesse sistema de contabilidade comercial, cada seção de uma empresa representa uma entidade completa, como se fosse um negócio independente. Supõe-se que cada seção "possua" uma determinada parte do capital da empresa, que compre e venda a outras seções, que tenha suas próprias receitas e despesas, que seus procedimentos resultem em lucro ou prejuízo, imputáveis à sua própria direção independentemente do resultado das outras seções. Desta forma, o empresário pode atribuir à gerência de cada seção uma grande margem de autonomia. A única recomendação que faz a alguém encarregado de dirigir um serviço específico é a e que, em sua gestão, realize o maior lucro possível. Um exame da contabilidade mostra em que medida os gerentes foram bem sucedidos na realização desse objetivo. Todo gerente e subgerente é responsável pelo bom funcionamento de sua seção ou subseção... Seu próprio interesse o impele a dedicar a maior atenção e empenho à condução da seção a seu cargo. Se incorrer em perdas, será substituído por outra pessoa de quem o empresário espera uma melhor performance; ou então a seção será desativada.
Mercados de capital como mecanismos de controle
Mises também identificou mercados de capital externos como um mecanismo de controle limitando a ponderação gerencial. Sobre a concepção popular dos acionistas como beneficiários passivos face ao controle gerencial, ele escreveu:
Essa doutrina ignora completamente o papel que os mercados de capitais e monetário, a troca de ações e títulos, os quais uma expressão idiomática chama apenas de "mercado", desempenha na direção da firma corporativa... De fato, as mudanças nos preços de... ações e títulos corporativos são os meios aplicados pelos capitalistas para o controle supremo do fluxo de capital. A estrutura de preços como é determinada pelas especulações nos mercados monetário e de capitais e nas grandes negociações de mercadorias não apenas decide quanto capital está disponível para a conduta de cada corporação; cria um estado de coisas ao qual os gerentes devem ajustar suas operações detalhadamente.
Dificilmente alguém poderia imaginar o mais arrogante dos planejadores centrais estatais sustentando uma visão mais otimista do potencial utópico do processamento de números.
"Ao definir metas organizacionais como "buscadoras de lucro", Mises  assim como os neoclássicos  tratou os funcionamentos internos da organização como uma caixa preta."
Peter Klein afirmou que isso prenunciava o tratamento de Henry Manne do mecanismo pelo qual os empreendedores mantém controle da direção corporativa. Enquanto exista um mercado para controle de corporações. A discrição da gerência será limitada até a ameaça de tomada hostil. Apesar de a gerência possuir um grau amigável de autonomia administrativa, qualquer desvio significante da maximização de lucros irá reduzir os preços das ações e levar o perigo de tomada externa à corporação.
A questão, de qualquer forma, é se aquelas decisões de investimento  sejam elas gerência veterana alocando capital dentre as divisões de uma corporação ou capitalistas financeiros externos  possuem a informação necessária para avaliar o funcionamento interno das firmas e tomar decisões apropriadas.
Até onde a alocação financeira do mundo real, do capitalismo de Estado, difere da gravura de Mises é sugerido pela investigação de Robert Jackall em Moral Mazes sobre o funcionamento interno de uma corporação (especialmente as notórias práticas de "fome" ou "ordenha", uma organização com o objetivo de inflar os aparentes lucros de curto prazo). Se um lucro aparente é sustentável, ou um efeito conjunto ilusório de destruição das boas sementes [1], é frequentemente um julgamento melhor feito por aqueles diretamente envolvidos na produção. O puro cálculo monetário daqueles no topo não é suficiente para uma avaliação válida de tais perguntas.
Um grande problema com o modelo de Mises de planejamento central empreendedor de partidas dobradas é o seguinte: são normalmente as restrições irracionais impostas por alguém do topo que resultam em tinta vermelha nos níveis mais baixos. Mas aqueles no topo da hierarquia se recusam a reconhecer as amarras duplas nas quais colocam seus subordinados. "Negação plausível", o fluxo descendente de responsabilidade e o fluxo ascendente de crédito, e a prática de atirar no mensageiro por trazer notícias ruins, são o que lubrifica as engrenagens de qualquer grande organização.
Quanto aos investidores externos, os participantes do mercado de capitais estão ainda mais separados que a gerencia dos dados que necessitam para valorar a eficiência do uso de fatores dentro da "caixa preta". Na prática, tomadas hostis tendem a gravitar ao redor de firmas com baixa bagagem de dívidas e aparente pequenas margens de lucro de curto prazo. Os assaltantes corporativos são mais capazes de cheirar sangue quando há a possibilidade de realizar uma aquisição com novas dívidas e privá-la de seus ativos em troca de retornos de curto prazo. A melhor forma de evitar uma tomada hostil, por outro lado, é realizar uma organização com dívidas e inflar os retornos de curto prazo "ordenhando".
Outro problema, sob a perspectiva daqueles no topo, é determinar o significado da tinta preta ou vermelha. Como o investidor de larga escala distingue perdas causadas pela gerência veterana ao usar o sistema em favor de interesses próprios à custa da produtividade da organização de perdas que ocorrem como efeitos normais do ciclo de negócios [2]? De todos os que rejeitavam a abordagem econométrica neoclássica precisamente porque as variáveis eram muito complexas para serem controladas, Mises deveria ter antecipado tais dificuldades.
A "brincadeira" gerencial pode ser muito bem uma resposta puramente defensiva a incentivos estruturais, uma forma de desviar a pressão daqueles que acima cujo único interesse é maximizar lucros aparentes sem levar em conta como poupanças de curto prazo podem resultar em perdas de longo prazo. As práticas de organização de "fome" e "ordenha" que Jackall tanto explorou  adiar custos de manutenção necessários, deixar o equipamento e a planta apodrecerem, e coisas do tipo, para inflar o balancete trimestral  resultam dessa própria pressão, tão irracional quanto as pressões que os gerentes de negócios Soviéticos enfrentavam do Gosplan.
Cultura Compartilhada
O problema é complicado quando a própria cultura organizacional  determinada pelas necessidades do sistema gerencial  é compartilhada por todas as corporações numa indústria de oligopólio induzido pelo Estado, de forma que o mesmo padrão de tinta vermelha apareça em toda a indústria[3]. Ele é complicado ainda mais quando a atmosfera geral de capitalismo de Estado dá condições às corporações numa indústria cartelizada para operarem no preto apesar do tamanho excessivo e cultura interna disfuncional. Se torna impossível fazer uma estimativa válida de porque a corporação é afinal lucrativa: será que a tinta preta é resultado da eficiência ou de algum grau de proteção contra punições competitivas à ineficiência? Se as decisões dos MBAs de se engajarem em tomada e ordenha de ativos, com interesses em lucratividade a curto prazo, resultam em danos de longo prazo à saúde da empresa, elas serão mais capazes de serem incentivadas do que censuradas pelos investidores e superiores. Afinal, eles estavam agindo de acordo com a sabedoria convencional contida no Grande Manual do MBA, então não poderiam ter sido eles que causaram sua desvalorização abrupta. Devem ter sido manchas solares ou algo assim.
"Como o investidor de larga escala distingue perdas causadas pela gerência veterana ao usar o sistema em favor de interesses próprios à custa da produtividade da organização de perdas que ocorrem como efeitos normais do ciclo de negócios?"
De fato, a comunidade financeira algumas vezes censura transgressões às normas da cultura corporativa mesmo quando elas são bem sucedidas segundo medidas convencionais. As ações da Costco caíram de valor, apesar da companhia ter sido melhor que a Wal-Mart nos lucros, graças a uma resposta à publicidade adversa na comunidade empresarial sobre seus salários acima da média. O analista Bill Dreher do Deutsche Bank lembrou debochantemente: "Na Costco, é melhor ser um empregado ou freguês do que um acionista". Entretanto, no mundo dos investimentos baseados na fé, a Wal-Mart "continua a princesa da Rua, a qual, assim como a Wal-Mart e muitas outras companhias, acredita que os acionistas estão mais bem servidos se os empregadores fizerem tudo o que puderem para cortar custos, incluindo custos de trabalho". (Business Week Online, 12 de Abril de 2004).
Por outro lado, a gerência pode ser caprichosamente recompensada por derrubar uma corporação, enquanto se acredite que se esteja fazendo tudo certo de acordo com as normas da cultura corporativa. Numa história do New York Times que Digg aptamente intitulou "CEO da Home Depot ganha 210 milhões de dólares de multa rescisória por ser ruim em seu emprego", foi noticiado que o CEO Robert Nardelli, prestes a deixar a companhia, recebeu um grande pacote de desligamento apesar de sua performance terrível. É até bom que ele não tenha aumentado muito os salários dos empregados, ou então ele estaria comendo numa cozinha pública.
Como você pode esperar, os suspeitos usuais vieram para defender a honra de Nardelli. Um artigo de Alan Murray no Wall Street Journal notou que ele tinha "mais do que dobrado... os ganhos".
Mas Tom Blummer, do BizzyBlog, cujas fontes por razões óbvias preferem se manter anônimas, mostrou alguns fatos inconvenientes sobre como Nardelli alcançou tais ganhos crescentes:
  • Sua consolidação de compras e muitas outras funções em Atlanta vindas de várias regiões fizeram compradores perderem contato com seus vendedores...
  • Demitir pessoas com conhecimento e experiência em favor de novatos desinformados e funcionários de meio período reduziu a folha de pagamento bastante, mas eventualmente afastou os clientes, e deu a companhia uma muito bem merecida reputação por realizar serviços medíocres...
  • Nardelli e seus asseclas modificaram qualquer contabilidade, compra, e deram qualquer "jeitinho" que podiam para manter os números apresentáveis, enquanto deixavam o negócio se deteriorar.
Num comentário seguinte direcionado a mim pessoalmente, Blummer forneceu esse pedaço adicional de informação:
Eu descobri então que Nardelli, nos últimos meses antes de ir embora, tirou todo o centro de compras de Atlanta e moveu para... a Índia  tudo para conseguir terceirização estrangeira.
Me disseram que "fora de contato" não é nem o começo para descrever como está agora entre as lojas da Home Depot e o setor de compra, e entre o setor de compra e seus fornecedores.
Não só há uma barreira de linguagem, mas o setor de compras da Índia não conhece a "linguagem" do hardware americano  ou mesmo metade das coisas que as lojas e fornecedores aqui descrevem.
Dizem-me que uma grande quantidade de tempo, dinheiro, e energia está sendo desperdiçada  tudo em nome do que de todo jeito era apenas uma cota bônus por cortar funcionários e fazer as despesas de G&A (gerais e administrativas) parecerem baixas ("parecerem" baixas porque as despesas foram repassadas para as lojas e fornecedores).
Mais do que uma pessoa notou a similaridade, em seus efeitos distorcivos, dos incentivos dentro do sistema de planejamento estatal Soviético e a economia corporativa Ocidental. Já notamos a pressão sistêmica para criar a ilusão de lucros de curto prazo minando a produtividade a longo.
"Mais do que uma pessoa notou a similaridade, em seus efeitos distorcivos, dos incentivos dentro do sistema de planejamento estatal Soviético e a economia corporativa Ocidental."
Considere a previsão de Hayek de desenvolvimento irregular, irracionalidade, e má alocação de recursos numa economia planificada ("Socialist Calculation II: The State of The Debate")[4]:
Não há razões para esperar que a produção pare, ou que as autoridades achem dificuldades em utilizar de alguma forma todos os recursos disponíveis, ou mesmo que o produto seja permanentemente inferior ao do período pré-planejamento... [Devemos esperar] o desenvolvimento excessivo de algumas linhas de produção ás custas de outras e o uso de métodos que são inapropriados sob tais circunstâncias. Devemos esperar super-desenvolvimento de algumas indústrias a um custo o qual não é justificado pela importância de seu crescente produto e ver não checada a ambição do engenheiro de aplicar seu último desenvolvimento em algum lugar, sem levar em conta se é economicamente apropriada à situação. Em muitos casos o uso dos métodos mais recentes de produção, os quais não teriam sido aplicados sem planejamento central, seriam então um sintoma de mal uso de recursos ao invés de uma prova de sucesso.
Como um exemplo ele citou a "excelência, de um ponto de vista tecnológico, de algumas partes do equipamento industrial Russo, a qual frequentemente impressiona o observador casual e é comumente tomada como evidência de sucesso".
Para alguém observando o desenvolvimento irregular da economia corporativa sob o capitalismo de Estado, isso deveria inspirar um senso de déjà vu. Categorias completas de bens e métodos de produção foram desenvolvidos a um custo enorme, tanto pela indústria militar ou pelo P&D subsidiado pelo Estado na economia civil, sem levar em conta os custos. Subsídios à acumulação de capital, P&D, e educação técnica distorcem radicalmente as formas tomadas pela produção. (Sobre esses pontos ver os trabalhos de David Noble, Forces of Production e América by Design.) Fábricas enormes e centralização econômica se tornaram artificialmente lucrativas, graças ao sistema de estradas interestaduais e outros meios de externalizar custos de distribuição.
Irracionalidade Penetrante
Também descreve bem o ambiente de irracionalidade penetrante dentro da grande corporação: contratação excessiva de gerentes [5] e apropriação indébita; medidas de "corte de custos" que dizimam recursos produtivos enquanto deixam os pequenos impérios da gerência intactos; e a tendência a estender o domínio burocrático enquanto reduz a manutenção e o suporte para obrigações existentes. A alocação de recursos da gerência sem dúvida cria valor de uso de algum tipo  mas sem nenhuma forma confiável de estimar o custo de oportunidade ou determinar se o benefício foi satisfatório.
Um bom exemplo é um hospital, parte de uma cadeia corporativa, o qual eu tive a oportunidade de observar em primeira mão. A gerência justifica cortes de enfermeiras e técnicos como medidas de "corte de custos" apesar dos custos crescentes com erros, panes e infecções de MRSA (Estafilococus aureus resistentes a meticilina) que excedem os supostos cortes. É claro que a justificativa para "corte de custos" para demitir profissionais da saúde não se estende à rede de patrocínio de enfermeiras registradas ao Escritório de Enfermagem. Enquanto isso, a gerência injeta dinheiro em projetos capitais inadequados (como remodelar trabalhos que tornam as divisões menos funcionais, ou a extremamente nova e cara unidade ACE [6] que nunca funcionou porque foi muito mal projetada); um caro robô cirúrgico, comprado mais pelo prestígio, que não faz nada que não poderia ser feito ao contratar-se mais uma enfermeira. Mas a equipe de gerência dificilmente terá que enfrentar alguma conseqüência negativa, uma vez que os outros três maiores hospitais da região são tocados da mesma forma.
"Categorias completas de bens e métodos de produção foram desenvolvidos a um custo enorme, tanto pela indústria militar ou pelo P&D subsidiado pelo Estado na economia civil, sem levar em conta os custos."
Tais patologias, obviamente, não são resultados do livre mercado. Não é dizer, é claro, que o porte em si não produziria custos de ineficiência em algumas firmas que existiriam sob o laissez faire. O problema do cálculo econômico (no sentido amplo, de forma que inclua o problema Hayekiano do conhecimento) pode ou não existir até certo ponto na corporação privada no livre mercado. Mas a fronteira entre mercado e hierarquia seria definida no ponto em que os benefícios de tamanho comecem a ser ultrapassados pelos problemas de cálculo econômico. As ineficiências de planta grande e hierarquia podem ser uma questão de grau, mas, como disse Ronald Coase, o mercado determinaria se as ineficiências são justificáveis.
O problema é que o Estado, ao reduzir artificialmente os custos de plantas grandes e restringindo os malefícios competitivos do problema do cálculo econômico, promove tamanhos maiores do que seria o caso num livre mercado  e com eles problemas de cálculo econômico num nível patológico. O Estado promove ineficiências de larga escala e hierarquia além do ponto em que seriam justificáveis, a partir de um ponto de vista de eficiência social, porque aqueles recebendo os benefícios da larga escala não são os mesmos que pagam os custos da ineficiência.
A solução é eliminar as políticas estatais que criaram tal situação, e permitir que o mercado puna a ineficiência. Para chegarmos lá. Entretanto, alguns libertários precisam reexaminar sua inquestionável simpatia pelos grandes negócios sendo "uma minoria oprimida" e se lembrar que deveriam estar defendendo mercados livres  não os ganhadores sob a atual economia estatista.
Notas do Tradutor
[1] No original "eating the seed corn". A gíria "seed corn" significaria algo como algo que rende bons frutos.
[2] Ciclos de negócios seriam "euforias" e "recessões" causadas pela expansão monetária.
[3] Na linguagem econômica, indústria quer dizer um setor. Por exemplo, a indústria têxtil, a indústria química. Cada empresa em específico é chamada de firma. Cada firma pode possuir uma ou mais unidades produtivas, chamadas de plantas.
[4] O livro do qual foi retirado o trecho a seguir se encontra disponível aqui. Em meu blogue também há artigos e links sobre os já citados problemas do conhecimento e do cálculo econômico.
[5] No original, "featherbedding".
[6] Uma unidade ACE (Acute Care for Elders Unit), ou traduzida, Unidade Para Cuidado Especial de Idosos, seria uma unidade médica especializada para idosos.


Kevin Carson é associado sênior do Centerfor a Stateless Society (c4ss.org). Ele é um mutualista e anarco-individualista cujos trabalhos incluem Studies in Mutualist Political EconomyOrganizationTheory: A Libertarian Perspective, e The Homebrew Industrial Revolution: A Low-Overhead Manifesto, todos disponíveis online.

Traduzido por
Rafael Hotz.