segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

O Espectro Esquerda-Direita


Por Karl Hess

Minha própria noção de política é a aquela que segue uma linha reta em vez de um círculo. A linha reta estende-se a partir da extrema-direita, de onde (historicamente) encontramos a monarquia, ditaduras absolutas e outras formas de governo absolutamente autoritários. Na extrema-direita, lei e ordem significam a lei do governante e a ordem que serve o interesse desse governador, geralmente a ordem de trabalhadores preguiçosos, de estudantes submissos, de anciãos tanto totalmente intimidados à lealdade quanto totalmente doutrinados e treinados para essa lealdade. Igualmente Joseph Stalin e Adolph Hitler operaram regimes de direita, politicamente, apesar das armadilhas do socialismo com o qual ambos adornaram seus regimes. Huey Long, no tempo de governador-chefe do estado da Louisiana, estava se movendo em direção a um regime verdadeiramente de direita, também adornado com muitas armadilhas do socialismo (especialmente obras públicas e assistencialismo) mas mantida em conjunta não por benefícios sociais, mas por uma força policial forte e um fluxo estável de dinheiro para subsidiar e favorecer empresários.

Um presidente americano poderia ser dito a mover-se em direção à direita, na medida que ele tende a tomar decisões políticas absolutamente unilaterais, com nenhuma referência ao congresso, por exemplo, ou ao povo em geral. E quando a legitimidade do regime fosse apoiada ou feita verdadeiramente mais por pura força, por exemplo, de força policial ao invés de obediência voluntária das pessoas em geral. Tal regime, também, estaria suscetível a reprimir ou engolir centros de competição de poder em potencial, como os sindicatos. Grandes interesses financeiros, contudo, supondo as relações de Adolph Hitler com a indústria, por exemplo, possa ser considerado instrutivo, seria comprado ao invés de combatido com gordos contratos e uma oportunidade contínua para enriquecer seus proprietários. Joseph Stalin, claro, não teve problema com nada, como os sindicatos independentes ou empresas, desde que ambos tivessem sido mortos anteriormente.

A característica geral de um regime de direita, não importa os detalhes de diferença entre esse ou aquele, é que ele reflete a concentração de poder em menor número na prática.

Poder, concentrado em poucas mãos, é a característica histórica dominante do que a maioria das pessoas, na maioria das vezes, considerou a direita política e econômica.

A extrema-esquerda, tão longe quanto você possa sair da direita, na verdade, logicamente representa a tendência oposta e, de fato, já fez exatamente isso ao longo da história. A esquerda tem sido o lado da política e da economia que se opõe a concentração de poder e riqueza e, ao contrário, defende e trabalha em direção a distribuição de poder dentro do número máximo de mãos.

Assim como a escala ao longo dessa linha mostraria gradações da direita, também mostraria gradações da esquerda.

Antes de atingir a monarquia ou ditadura de extrema-direita, existe muitas posições da direita intermediária. Alguns são chamados de conservador.

Em algum lugar ao longo da linha, por exemplo, de uma determinada concentração de poder, particularmente poder econômico, seria aceitável, em nome da tradição. Os filhos dos ricos, característicamente, são concedidos a locais muito especiais nos regimes de direita, ou de conservadores. Além disso, há uma grande deferência à estabilidade e uma preferência por ela ao invés de mudança – todas as outras coisas sendo iguais. Atenção pode ser o lema em direção ao centro da escala dessa direita, simplesmente uma atitude vagarosa. Isto é, reconhecidamente, um longo caminho desde a extrema-direita e a ditadura, porém é um modo que pode e deveria ser mensurado em uma linha reta. A preferência natural pela lei e ordem que parece isso como valer a pena e a preferência conservadora inocente é de uma tradição política que veio a nós a partir dos reis e imperadores, não da antiga democracia.

Isso dificilmente significa que todo conservador, se pressionado, vai mais longe, mais para a direita até abraçar a ditadura absoluta ou monarquia. Longe disso. Isso significa sugerir apenas que os fantasmas do poder real murmuram na tradição conservadora.

A esquerda mostra gradações similares. A mais distante esquerda que você possa ir, historicamente, de qualquer maneira, é o anarquismo – a total oposição a qualquer poder institucionalizado, uma condição de organização social completamente voluntária no qual as pessoas estabeleceriam seus modos de vida, em pequenos grupos de consentimentos e cooperar com outros como bem entenderem.

A atitude nessa esquerda mais distante em direção a lei e a ordem foi resumida inicialmente por um francês anarquista, Proudhon, que disse que “a ordem é a filha e não a mãe da liberdade”. Deixe as pessoas serem absolutamente livres, diz esse mais distante do longínquo, a extrema-esquerda (a esquerda que o Comunismo, regularmente, denuncia como também esquerda. Lenin chamou-a de “esquerda infantil”). Se eles são livres, eles serão decentes, mas nunca poderão ser decentes até que sejam livres. Poder concentrado, burocracia e etc, irá condenar essa decência. Um pouco mais ao longo da linha da esquerda, pode haver algum acordo ou, pelo menos, simpatia com esse libertarianismo de esquerda porém, estaria dito, existe razões práticas e imediatas para adiar esse tipo de liberdade. As pessoas simplesmente não estão prontas para isso. A grosso modo, essa é a posição do Partido Comunista hoje...

De qualquer forma, em algum ponto no espectro, há uma notável posição progressista moderna americana. Através de uma série de distorções lamentáveis porém certamente compreensível da terminologia política, a posição progressista passou a ser conhecida como uma posição de esquerda. Na verdade, situa-se ao lado da tradição conservadora, em direção ao meio da linha, mas decididamente, eu penso, à direita de seu centro. Os progressistas acreditam em poder concentrado – nas mãos dos progressistas, a elite supostamente instruída e fina. Eles acreditam em concentrar esse poder de forma tão forte e efetiva quanto possível. Acreditam no grande tamanho do empreendimento, seja corporativo ou político, e tem um grande e profundo desdém pelo simples e pelo local. Pensam em nível nacional, mas também pensam em nível global e, hoje em dia, até mesmo em nível intergalático. Na verdade, por acreditarem muito mais no governo autoritário do que de muitos conservadores, provavelmente seria melhor dizer que os progressistas se encontram próximos, mas, na verdade, à direita de muitos conservadores.


Karl Hess foi um escritor e ativista político americano. Sua carreira inclui desde passagens no Partido Republicano à integrante do movimento Nova Esquerda, onde defendeu até o fim de sua vida o anarquismo de mercado.

Traduzido por Rodrigo Viana