De
acordo com a teoria do valor-trabalho existe uma diferença entre
valor de uso e valor de troca (para pessoas que pensam que a TVT é
besteira, eu irei explicar a exploração do trabalho até mesmo sem
a TVT depois de um tempo, mas é mais fácil iniciar assim). Valor
de uso é o uso que um indivíduo pode ter de um certo bem ou
serviço, enquanto o valor de troca é o preço —
isto é, que esse bem ou serviço pode ser barganhado no mercado. No
longo prazo, com concorrência livre, o valor de troca de bens
facilmente reproduzíveis irá simplesmente variar em torno do valor
trabalho, ou o custo de reproduzir o mesmo bem.
Na
economia capitalista, trabalho é tanto um bem que é comprado e
vendido, quanto um fator de produção que fornece outros bens seu
valor. Isso significa que trabalho tem uma função dual; é o valor
de troca que é determinado pelo quão necessário reproduzir esse
trabalho (que é alimento e habitação para o trabalhador e sua possível família —
juntamente, quando é sobre trabalho que requer qualificação maior,
um salário alto o bastante para atrair esse tipo de força de
trabalho),
enquanto é o valor de uso que é decidido pelo quão esse trabalho
contribui para a produção.
Isso
significa, por sua vez, que o valor de uso de trabalhadores, na
economia capitalista, deve ser maior que o valor de trocas de
trabalhadores. Se o valor de troca é maior que o valor de uso —
isto é, se o trabalho custa mais do que o que isso rende — então
não existe capitalista no universo que contrataria. Se o trabalho
rende em 1000 dinheiros, mas custou 2000 dinheiros, seria uma
completa perda contratar tal força de trabalho; se o trabalho, ao
contrário, rende 2000 dinheiros, mas custou 1000, a força de
trabalho seria um completo ganho. A diferença entre o valor de uso e
o valor de troca é normalmente chamado de “mais-valia”, isto é,
o valor que o trabalhador cria mas que vai para o empregador. A
mais-valia é também que, em primeira mão, forma o lucro para o
capitalista (em que ele ou ela pode aumentar através de barreiras de
mercado que conduzem ao poder de monopólio ou oligopólio). O lucro
e a exploração são, portanto, dois lados da mesma moeda, para ser
explorado é necessário que haja alguém para lucrar de seu
trabalho, e para lucrar é necessário o trabalho de alguém ser
explorado. Isso conduz Benjamin Tucker para a opinião que “lucro é
outro nome para pilhagem” (Coughlin,
Hamilton and Sullivan (red.) “Benjamin R. Tucker and the Champions of Liberty”,
s. 29).
Através
da teoria do valor trabalho, como tal, é muito fácil mostrar como a
classe trabalhadora está sendo explorada pelos capitalistas. Sem
surpresa, esta teoria não é usada pelos economistas nacionais
modernos que, ao invés, usam diferentes tipos de teorias de utilidade
marginal (que como Kevin Carson previamente apontou, não é de
qualquer meio “errado” —
mas tal teoria deve ser incorporada dentro de uma mais compreensiva
teoria de valor-trabalho ao invés de ser colocada contra ela,
porque as teorias de modo algum contradizem uma a outra).
Como estas teorias não usam termos como “valor de uso” ou “valor
de troca” é mais difícil provar mais clara e concisamente essa
exploração (talvez um fator que contribui em por que, de forma
relativamente rápida, se tornou tão popular nas economias
burguesas?) —
mas essa relação exploratória que é fundação da economia
capitalista pode, claro, ser ilustrada sem estes valores. Ao invés
de falar sobre valores de uso e troca, eu irei mostrar essa relação
através de exemplo, e desmascarar os argumentos pró-capitalistas
fomentados contra eles.
Imagine
um trabalhador que executa trabalho assalariado para uma empresa que
produz e vende pregos de ferro, enquanto a companhia lucra. Qual é a
fonte desse lucro? As receitas, que são mais altas do que as despesas.
O que são as receitas? A venda de pregos de ferro. O que são as
despesas? Aluguéis, investimentos de capital e —
isso mesmo — força de trabalho. Os aluguéis provavelmente não
serão afetados (ao menos que o capitalista possua a terra e
edifícios que ele os aluga para outro dono/ capitalista de terra, que
coloca seu próprio preço em relação ao mercado atual). Os
investimentos de capital são também uma coisa que não podem ser
afetados a um nível maior, quando tal fator — do mesmo modo como
aluguéis — é feito através de comércio com outros capitalistas.
O que o próprio capitalista pode afetar é o custo da força de
trabalho que ele usa, e como o modo de produção fica. Aqui
ele pode gerar lucros por pagar aos trabalhadores o mais baixo que
possivelmente conseguir — que significa embora lucro tão grande quanto
possível para si próprio, todas outras coisas iguais.
As
maiores objeções pró-capitalistas são normalmente estas:
1) O capitalista está tomando todo o risco, ele merece essa mais-valia
(mesmo se liberais e conservadores raramente queiram chamar isso de
mais-valia)!
2) O capitalista contribui através da fábrica e do maquinário,
claro, ele deve ter esse excedente (mesmo se...)!
E
estas objeções são razoáveis numa economia capitalista; é
correto dizer que o capitalista é aquele tomando risco e aquele
contribuindo com a fábrica e o maquinário. O que os liberais
esquecem é que nós, libertários socialistas, não queremos um modo
de produção capitalista; essas objeções se tornam bastante sem
sentido. Por que é que o capitalista tem a possibilidade para
possuir fábricas e tomar o risco para produzir com a promessa de
enormes lucros? As relações de propriedade de hoje em dia não são
dadas pela natureza, porém é um resultado de uma evolução
econômica baseado, primeiro e principalmente, na violência e
coerção, intervenção estatal e jogos de poder capitalista. Nós,
socialistas, não queremos roubar os capitalistas de suas “recompensas”
na economia capitalista como os liberais capitalistas presumem; nós
queremos substituir o capitalismo com outra coisa, onde estas
relações de propriedade não mais se aplicam e onde o trabalho —
ao invés da usura, seja a fonte de renda. Eu ainda tenho que mostrar
a exploração da força de trabalho sem a ajuda de uma teoria do
valor trabalho — porque isso não pode ser explicado na linguagem
marginalista sem um contra-exemplo. Por causa da orientações dos
blogs, Eu estou, claro, escolhendo um contra-exemplo mutualista.
Vamos
imaginar que ao invés de capitalismo e trabalho assalariado nós
tivéssemos uma ordem econômica mutualista. Produtores autônomos
possuem seus próprios meios de produção, grandes produtores
trabalham conjuntamente e a própria produção deles cooperativamente,
investimentos são feitos através de cooperativas de créditos e
bancos mútuos enquanto a posse da terra é decidida baseada na
ocupação e uso. Nós imediatamente nos livraríamos do aluguel
sobre a terra, porque essa posse é baseada na posse da terra
capitalista e é impossível com ocupação e uso. Os bancos
mutualistas e cooperativas de crédito, ademais, significam que os
produtores autônomos e cooperativas de trabalhadores não tenham
mais que confiar em capitalistas com muitos recursos para fazer
investimentos. Que os produtores possuem diretamente o local de
trabalho deles torna nenhum lucro necessário para pagar a um dono
específico, quando as receitas —
deduzidos das receitas que vão para o investimento adicional (se os
produtores estão interessados em produzir para amanhã) —
vão diretamente para os trabalhadores. Aqui nós vemos uma ordem
econômica onde nenhum lucro capitalista é necessário — o
capitalista está fora de cena. Se o meu trabalho cria 2000 dinheiros
então minha receita é também 2000 dinheiros; onde eu sozinho (e
possivelmente meus trabalhadores cooperados, se eu trabalho
cooperativamente) decido o quanto de minha receita deve ir para o meu
consumo e quanto deve ir para futura produção. Eu contribui então
com o trabalho que eu ganhei 2000 dinheiros para o negócio e eu
recebo 2000 dinheiros por isso; algo completamente diferente do que o
que nós podemos ver na economia capitalista construída sobre
hierarquia, com o capitalista no topo e os trabalhadores embaixo.
Quando
nós comparamos estes dois exemplos a exploração se torna mais
aparente. Mesmo se você que lê isso estiver relutante para usar
termos como valor de troca e valor de uso, nós podemos a partir
destes dois exemplos ver claramente uma diferença entre valor de uso
e troca na economia capitalista, enquanto valor de troca de trabalhos
na alternativa socialista mutual é irrelevante, quando o processo
inteiro é baseado no valor de uso. O liberal, que é relutante a
aceitar qualquer pensamento de “usurpação”, poderia substituir
“valor de troca” com “o preço de trabalho” e “valor de
uso” com “o que o trabalhador contribui para produção”, se
isso torna os conceitos mais fáceis para compreender. Que nos conduz
para nossa próxima objeção pró-capitalista ao fato de que a
classe trabalhadora é sistematicamente explorada na economia
capitalista:
3) Você está esquecendo da preferência temporal! Algo hoje vale
mais do que algo amanhã, por causa das avaliações subjetivas dos
humanos — o capitalista desiste de algo hoje,
investe na produção, para receber mais amanhã — todo
mundo está feliz!
Preferência
temporal, com todo o devido respeito, tal coisa existe para o mais alto
nível na consciência humana; mas o pensamento que capitalismo é
legitimado por causa da preferência temporal é, mais uma vez, algo
que vem a partir da ideia de que as relações de propriedade
capitalista são algo “natural”, junto com a produção baseada
no capitalismo proprietário e trabalhadores sem propriedade. Mais
uma vez, por esse motivo: uma defesa brilhante do capitalismo se pressupomos o capitalismo, mas algo bastante inútil se nós discutimos
alternativas socialistas. Porque, na alternativa mutualista acima, no
que está baseada a preferência temporal? Preferência temporal está
baseada no que tem sido mencionado acima: a decisão dos
trabalhadores sobre quanto das receitas eles devem usar para eles
mesmos e quanto devem ser reinvestidos na produção. Kevin Carson
apresenta essa relação numa forma excelente:
“Numa economia (...) como teria existido tivesse o livre mercado sido permi tido se desenvolver sem roubo em larga escala, a preferência temporal afetaria apenas os cálculos dos trabalhadores de seu próprio consumo presente versus seu próprio consumo futuro. Todo consumo, presente ou futuro, seria o resultado inquestionável do trabalho. É apenas numa economia capitalista (isto é, estatista) que uma classe proprietária, com riqueza supérflua mui to além de sua habi l idade de consumi r, pode se manter na ociosidade emprestando os meios de subsistência para produtores em troca de uma revindicação sobre a produção futura.”
- Kevin A. Carson, “Estudos na Economia Política Mutualista”, Capítulo 3
Se
nós usarmos a teoria do valor-trabalho, ou se nós excluirmos
completamente ela de nossa análise, a resposta é a mesma: a classe
trabalhadora é explorada na economia capitalista, quando essa é
comparada a uma alternativa socialista. Todas as pessoas produtivas
em nossa sociedade ganham a partir do socialismo libertário e
anarquista —
enquanto os perdedores são as classes parasitas: os capitalistas e
os donos de terra, que vivem dos trabalho de outros. Reacionários
liberais e economistas nacionais burgueses em defesa da ordem
existente, com o devido respeito, mas essa defesa é tão falha que
até mesmo um texto tão curto como esse pode facilmente acabar com
isso.
Traduzido
por Rodrigo Viana. Para ler o original clique
aqui.
Mutualism é um blog sueco que visa a propagação da política anarquista mutualista.
Veja também:
Veja também: