Por
Benjamin Tucker
Liberty,
28 de Abril de 1888.
Na
edição de número 121 do Liberty, criticando uma tentativa
de Kropotkin para identificar comunismo e individualismo, eu acusei-o
de ignorar "a questão real se o comunismo permitirá o
indivíduo trabalhar independentemente, possuir ferramentas, vender
seu trabalho ou seus produtos e comprar o trabalho ou produtos de
outros". Na visão de Herr Most isso é tão ultrajante
que, na reimpressão, ele coloca as palavras "o trabalho dos
outros" em letras pretas grandes. Most, sendo um comunista,
ele deve, para ser consistente, objetar a compra e venda do que quer
que seja; contudo, por que ele especialmente deve se objetar à
compra e venda de trabalho é mais do que eu posso compreender.
Realmente, na última análise, trabalho é a única coisa que tem
qualquer título para ser comprado ou vendido. Existe qualquer
fundamento justo de preço exceto custo? E existe alguma coisa que
custa exceto trabalho ou sofrimento (outro nome para trabalho)?
Trabalho deve ser pago! Horrível, não é? Ora, eu achei que o
fato de que não é pago era a queixa toda. "Trabalho não
remunerado" tem sido a principal reclamação de todos
socialistas, e de que o trabalho deve obter sua remuneração
tem sido a discórdia deles. Suponha que eu dissera a Kropotkin que a
questão real é se comunismo permitirá indivíduos trocar o
trabalho deles ou produtos sobre os próprios termos deles. Herr Most
teria estado tão chocado? Ele teria impresso aquilo em letras
pretas? Todavia, em outra forma eu disse precisamente aquilo.
Se
os homens que se opõem ao salário —
isto é, a compra e a venda de trabalho —
fossem capazes de analisar seus pensamentos e sentimentos, eles
veriam que o que realmente provoca a fúria deles não é o fato de
que trabalho é comprado e vendido, mas o fato de que uma classe de
homens são dependentes em relação as suas vidas em consequência
da venda de seu trabalho, enquanto outra classe de homens são
aliviados da necessidade de trabalho por serem legalmente
privilegiados a vender alguma coisa que não é trabalho, e que,
exceto pelo privilégio, seria desfrutado por todos gratuitamente. E
para tal estado de coisas eu estou tanto em forte oposição quanto
qualquer um. Porém no momento que você remove privilégio, a classe
que agora desfruta será forçada a vender seu trabalho, e então,
quando haver nada além de trabalho com que para comprar trabalho, a
distinção entre pagadores de salário e recebedores de salário
será varrido, e todo homem será um trabalhador trocando com colegas
trabalhadores. Sem abolir salários, mas tornar todo
homem dependente em relação a salários e assegurar todo homem seu
salário completo
é o objetivo do socialismo anarquista. O que o socialismo anarquista
busca para abolir é usura. Não deseja privar trabalho de sua
remuneração; deseja privar capital de sua remuneração. Não se
sustenta que trabalho deva não ser vendido; se sustenta que capital
não deva ser empregado em usura.
Mas,
diz Herr Most, essa ideia de um livre mercado de trabalho do qual
privilégio é eliminado é nada mais do que "manchesterismo
coerente". Bem, o que melhor um homem, que professa o
anarquismo, pode desejar do que isso? Visto que o princípio do
manchesterismo é liberdade e manchesterismo coerente é a aderência
coerente a liberdade. A única incoerência dos homens de Manchester
repousa na infidelidade deles a liberdade em algumas de suas fases. E
essa infidelidade para liberdade em alguma de suas fases é
precisamente a incoerência fatal da escola Freiheit,
— a única diferença entre seus aderentes e os homens de
Manchester é que em muitas das fases em que os últimos são infiéis
os primeiros são leais, enquanto em muito daqueles em que os últimos
são leais os primeiros são infiéis. Sim, anarquismo genuíno é
manchesterismo coerente e comunista ou pseudo-anarquismo é
manchesterismo incoerente. "Graças
te dou, judeu, por ensinar-me essa palavra."
Traduzido
por Rodrigo Viana.
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Benjamin Tucker foi um anarco-individualista e propagador do Mutualismo nos Estados Unidos. Atuou como tradutor, teórico político e econômico e trabalhou como editor para o jornal anarquista "Liberty".
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