Por Jakob Pettersson “Sushigoat”
Eu
tenho sido bastante hostil a respeito aos anarco-capitalistas aqui,
mas eu quero tentar deixar claro um conceito errôneo.
Como
um ex- então chamado ”voluntarista”, minha barreira para
entrar para o anarquismo social [N. T.: anarquismo social remete à linhagem original do anarquismo, do qual que integra o mutualismo,
anarco-sindicalismo e anarco-comunismo] era esse conceito errôneo
comum entre as pessoas que acreditam em assuntos como o “princípio
da não-agressão (PNA)” e o direito à propriedade de que
anarquistas sociais são, de alguma forma, anti-contrato voluntário
e de que eles puniriam violentamente pessoas por fazerem tais
contratos. Esse ponto de vista se sustenta de forma firmemente segura
entre pessoas que se denominam “voluntaristas”,
“anarco-capitalistas” e “austro-libertários”, e infelizmente compelido pelos fanáticos vulgares de Chomsky, que
pensam que haverá algo como “tributação” em uma sociedade sem
estado.
Após
um tempo fica irritante ouvir vloggeiros, blogueiros e twitteiros
libertários direitistas fazerem alegações tal como “eu aceitaria o
anarquismo socialista em uma sociedade sem estado se fosse
voluntário”. Eles poderiam também terem dito “eu concordo com o
socialismo voluntário se fosse voluntário”. Todo anarquismo
social visiona uma sociedade sem agressão. E nenhum anarquista
social te impediria, de forma violenta, de empregar pessoas por
salários baixos e, uma vez que não existe “governo anarquista”,
não haveria que te impedir também. Poderia haver protestos,
boicotes organizados e outros coisas, tudo feito sem infringir o PNA.
“Você permitiria voluntário x em seu sistema?” parece que cabe ao
indivíduo anarquista decidir quais contratos voluntários são
feitos, coisa que seria, sabe, um governo.
Mas
existe um problema na ideologia do voluntarismo, do “tudo é
permitido se eu fiz um contrato consentindo isso”, além do simples
fato de que algumas pessoas tem uma desvantagem estrutural no
mercado em geral. O problema com a “hierarquia voluntária” é
que o mero fato de que não existe um agressor forçando você a
concordar não torna isso legítimo.
Vamos
dizer que exista uma organização cuja principal atividade é
propagar a homofobia. Eles regularmente organizam comícios
promovendo ódio e intimidação de pessoas gays. Fomentam os
pais a disciplinarem seus filhos por serem gay. Rastreiam
pessoas gays e os molestam verbalmente. Intimidam gays ao ponto
de suicídio. Organizam e financiam suas atividades completamente
voluntária, sem coerção. Você não tem que se juntar, financiar
ou gostar do que eles estão fazendo. Qualquer um que muda de ideia sobre
homossexualidade pode sair. Será que a capacidade em você não assinar o
contrato com eles, ou retirar o consentimento das atividades, legitima o que eles estão fazendo?
Você
provavelmente diria não. Você provavelmente diria que tal
organização deveria ser combatida. Uma vez que você acredita no
princípio de não-agressão, você provavelmente diria que a forma
de combater seria organizar boicotes em massa, usar a mídia e a
educação, persuasão e contra-organização para combater pelo o
que é certo.
Isso
é, claro, um exemplo extremo. Nós, anarquistas sociais, vemos o
ambiente de trabalho como um local onde a hierarquia social do
gerente e gerenciado, pagador de salário e assalariado, empregador e
empregado é negativo. Nossa crítica sequer se apoia em uma teoria
de valor-trabalho, mesmo que muitos de nós acreditam que ela seja verdade
(mesmo Kropotkin rejeitava a teoria do valor-trabalho). Isso cria uma
situação onde ambos estão trabalhando contra uns com os outros, porque eles tem tanto motivos diferentes quanto geralmente opostos por estar nessa
hierarquia. Como empregadores buscam lucros e empregados buscam
salários mais altos, se cria uma tensão negativa. Isso é um
problema, correto? Ora, uma vez que ambos concordamos sobre a
não-agressão: o que nós, não violentamente, estamos indo fazer
sobre isso?
O
ponto principal é: sua capacidade de interagir voluntariamente com
uma estrutura de poder ilegítima não é uma legitimação dessa estrutura de poder ilegítima.
Nós
também criticamos o mercado atual, a mercantilização de
virtualmente tudo, os valores culturais transmitem, o culto do
comércio e a deificação de objetos, o motivo de lucro. Isso é um
problema, talvez não para você, mas para nós. O que fazemos sobre
isso? Nem diga “bem, não utilize força para regular o mercado” porque isso é irrelevante e nos leva a lugar nenhum. Uma vez que
concordamos sobre a não-agressão, qual é a solução? Isso é o
que estamos tentando resolver.
Nós
discordamos com alguns assuntos que são voluntários. Nós achamos
que eles são negativos à sociedade e queremos fomentar os valores
que nós sentimos serem importantes para uma sociedade próspera e
humana. E talvez nós devemos ser melhores em persuadi-lo sobre isso.
Mas isso é o que queremos e o que esperamos que você queira também.
Outra
coisa: alguns anarquistas, inclusive, defendem cessar os títulos de propriedades atuais como parte de uma mudança social
maior a partir do capitalismo de estado para uma sociedade socialista
libertária. Isto não exige “agredir contra sua propriedade”,
mas poderia. Antes que você vá chorar em uma esquina, você deveria
pensar sobre isso: os títulos de propriedade destas pessoas são coisas que você apoia? Eles conseguiram essa propriedade
numa forma que se adequa nas ideias gerais da apropriação lockeana sem condição? Eu, pessoalmente, duvido *profundamente* disso. As chances
são, eles as obtém através do privilégio assegurado pelo governo, através da propriedade intelectual, às vezes tão vulgar quanto o domínio eminente ou roubo direto. Lembre-se, isto não é “livre
mercado”.
Traduzido por Rodrigo Viana. Para ler o original clique aqui.
Sushigoat é um blog que aborda assuntos corriqueiros, bem como anarquismo.
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- O que anarquismo realmente significa
- Meu problema com o capitalismo, em poucas palavras
- Mutualismo e mercados
- Anarquistas unidos jamais serão vencidos
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