terça-feira, 13 de maio de 2014

Hierarquia voluntária?



Por Jakob Pettersson “Sushigoat”

Eu tenho sido bastante hostil a respeito aos anarco-capitalistas aqui, mas eu quero tentar deixar claro um conceito errôneo.

Como um ex- então chamado ”voluntarista”, minha barreira para entrar para o anarquismo social [N. T.: anarquismo social remete à linhagem original do anarquismo, do qual que integra o mutualismo, anarco-sindicalismo e anarco-comunismo] era esse conceito errôneo comum entre as pessoas que acreditam em assuntos como o “princípio da não-agressão (PNA)” e o direito à propriedade de que anarquistas sociais são, de alguma forma, anti-contrato voluntário e de que eles puniriam violentamente pessoas por fazerem tais contratos. Esse ponto de vista se sustenta de forma firmemente segura entre pessoas que se denominam “voluntaristas”, “anarco-capitalistas” e “austro-libertários”, e infelizmente compelido pelos fanáticos vulgares de Chomsky, que pensam que haverá algo como “tributação” em uma sociedade sem estado.

Após um tempo fica irritante ouvir vloggeiros, blogueiros e twitteiros libertários direitistas fazerem alegações tal como “eu aceitaria o anarquismo socialista em uma sociedade sem estado se fosse voluntário”. Eles poderiam também terem dito “eu concordo com o socialismo voluntário se fosse voluntário”. Todo anarquismo social visiona uma sociedade sem agressão. E nenhum anarquista social te impediria, de forma violenta, de empregar pessoas por salários baixos e, uma vez que não existe “governo anarquista”, não haveria que te impedir também. Poderia haver protestos, boicotes organizados e outros coisas, tudo feito sem infringir o PNA. “Você permitiria voluntário x em seu sistema?” parece que cabe ao indivíduo anarquista decidir quais contratos voluntários são feitos, coisa que seria, sabe, um governo.

Mas existe um problema na ideologia do voluntarismo, do “tudo é permitido se eu fiz um contrato consentindo isso”, além do simples fato de que algumas pessoas tem uma desvantagem estrutural no mercado em geral. O problema com a “hierarquia voluntária” é que o mero fato de que não existe um agressor forçando você a concordar não torna isso legítimo.

Vamos dizer que exista uma organização cuja principal atividade é propagar a homofobia. Eles regularmente organizam comícios promovendo ódio e intimidação de pessoas gays. Fomentam os pais a disciplinarem seus filhos por serem gay. Rastreiam pessoas gays e os molestam verbalmente. Intimidam gays ao ponto de suicídio. Organizam e financiam suas atividades completamente voluntária, sem coerção. Você não tem que se juntar, financiar ou gostar do que eles estão fazendo. Qualquer um que muda de ideia sobre homossexualidade pode sair. Será que a capacidade em você não assinar o contrato com eles, ou retirar o consentimento das atividades, legitima o que eles estão fazendo?

Você provavelmente diria não. Você provavelmente diria que tal organização deveria ser combatida. Uma vez que você acredita no princípio de não-agressão, você provavelmente diria que a forma de combater seria organizar boicotes em massa, usar a mídia e a educação, persuasão e contra-organização para combater pelo o que é certo.

Isso é, claro, um exemplo extremo. Nós, anarquistas sociais, vemos o ambiente de trabalho como um local onde a hierarquia social do gerente e gerenciado, pagador de salário e assalariado, empregador e empregado é negativo. Nossa crítica sequer se apoia em uma teoria de valor-trabalho, mesmo que muitos de nós acreditam que ela seja verdade (mesmo Kropotkin rejeitava a teoria do valor-trabalho). Isso cria uma situação onde ambos estão trabalhando contra uns com os outros, porque eles tem tanto motivos diferentes quanto geralmente opostos por estar nessa hierarquia. Como empregadores buscam lucros e empregados buscam salários mais altos, se cria uma tensão negativa. Isso é um problema, correto? Ora, uma vez que ambos concordamos sobre a não-agressão: o que nós, não violentamente, estamos indo fazer sobre isso?

O ponto principal é: sua capacidade de interagir voluntariamente com uma estrutura de poder ilegítima não é uma legitimação dessa estrutura de poder ilegítima.

Nós também criticamos o mercado atual, a mercantilização de virtualmente tudo, os valores culturais transmitem, o culto do comércio e a deificação de objetos, o motivo de lucro. Isso é um problema, talvez não para você, mas para nós. O que fazemos sobre isso? Nem diga “bem, não utilize força para regular o mercado” porque isso é irrelevante e nos leva a lugar nenhum. Uma vez que concordamos sobre a não-agressão, qual é a solução? Isso é o que estamos tentando resolver.

Nós discordamos com alguns assuntos que são voluntários. Nós achamos que eles são negativos à sociedade e queremos fomentar os valores que nós sentimos serem importantes para uma sociedade próspera e humana. E talvez nós devemos ser melhores em persuadi-lo sobre isso. Mas isso é o que queremos e o que esperamos que você queira também.

Outra coisa: alguns anarquistas, inclusive, defendem cessar os títulos de propriedades atuais como parte de uma mudança social maior a partir do capitalismo de estado para uma sociedade socialista libertária. Isto não exige “agredir contra sua propriedade”, mas poderia. Antes que você vá chorar em uma esquina, você deveria pensar sobre isso: os títulos de propriedade destas pessoas são coisas que você apoia? Eles conseguiram essa propriedade numa forma que se adequa nas ideias gerais da apropriação lockeana sem condição? Eu, pessoalmente, duvido *profundamente* disso. As chances são, eles as obtém através do privilégio assegurado pelo governo, através da propriedade intelectual, às vezes tão vulgar quanto o domínio eminente ou roubo direto. Lembre-se, isto não é “livre mercado”.

Traduzido por Rodrigo Viana. Para ler o original clique aqui.


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