domingo, 24 de novembro de 2013
sexta-feira, 22 de novembro de 2013
Ponto Para a Esquerda Pró-livre Mercado
Por Kevin Carson
Em
seu blog no site da The
Economist
("Inequalityand Plutocracy: This Ain't No Banana Republic[1]",
Democracy
in America,
19 de novembro), Will Wilkinson critica a caracterização da
desigualdade de renda dos Estados Unidos como "predatória"
e a definição dos americanos mais ricos como "plutocratas".
Após acertadamente afirmar que a riqueza não necessariamente é resultado de predações, Wilkinson prossegue na argumentação de que a maior parte da riqueza nos Estados Unidos de fato não foi conseguida através da violência e de que o país não é uma plutocracia. Nesse processo, ele comete os non sequiturs de dizer que a derrota de Meg Whitman[2] na Califórnia e o próprio fato de que ela teve que candidatar-se ao governo estadual provam de alguma maneira que não vivemos numa plutocracia.
A premissa oculta é a de que "plutocracia" se traduz – num sentido tão grosseiro que remonta a Boss Hogg[3] – em "república de bananas". Para Wilkinson, "plutocracia" se refere a condições em lugares como a América Latina, onde uma grande parte da riqueza de fato tem origens predatórias.
Contudo, um país pode ser uma plutocracia sem ser uma república de bananas como as que são comuns na América Latina. Efetivamente, um país caracterizado pelo que os neoconservadores chamam de "estado de direito", definido por muito profissionalismo e racionalidade weberiana, pode ser uma plutocracia muito mais eficiente que a latinoamericana.
Paul Goodman, ao descrever o ethos meritocrático centralizado quase 50 anos atrás em "People or Personnel", antecipou a ideia neoconservadora de "estado de direito" enquanto sistema no qual aqueles gerenciados por organizações centralizadas têm direitos especificados com devido processo dentro dessas organizações – em vez de terem independência delas. Creio que os georgistas tenham captado a base dessa distinção ao defender não uma igual justiça sob a lei, mas leis iguais.
Wilkinson negligencia a possibilidade de que a plutocracia, longe de estar relacionada com relações individuais com grupos de extermínio e generais, pode estar embutida nas próprias regras do jogo. E quanto mais aparentemente "neutras" as regras e a experiência dos tecnocratas que as administram, mais eficiente é a plutocracia em tungar suas vítimas sem qualquer reclamação evidente.
Wilkinson, então, prossegue a uma discussão acerca de quais mecanismos ele considera responsáveis pelos níveis maiores de desigualdade nos Estados Unidos nas décadas recentes. Tais mecanismos incluem bônus por habilidades excepcionais, mais mercados de "superastros" e outros em que o "vencedor leva tudo" e mudanças na governança corporativa. Ou seja, mudanças fundamentais das regras nos últimos trinta anos aumentaram drasticamente a desigualdade.
É, no mínimo, uma possibilidade que vale a pena considerar pensar que as regras em si são plutocráticas. Os níveis de desigualdade e de concentração de renda que já existiam 30 anos atrás refletiam mais de um século de união corporativista entre o estado e os grandes empresários. O que aconteceu, portanto, pode-se dizer, é que as elites plutocráticas decidiram que o sistema não era plutocrático o suficiente e mudaram as regras para produzir melhores resultados.
Wilkinson reconhece a preocupação de que o regime vigente nos Estados Unidos torna possível para as elites financeiras canalizarem dinheiro para si próprias através de meios políticos, mas continua a alegar que a maior parte dos bilionários americanos chegaram onde estão através da "produção de coisas úteis, ou da produção ou venda de coisas úteis mais eficientemente" – i.e., através de inovações.
Eu admitiria que isso é verdadeiro até certo ponto, da mesma forma que a economia soviética produzia bens com algum valor de uso e que inovavam em alguma medida. Porém, eu diria qu os bilionários atingiram sua riqueza através, principalmente, de restrições às condições sob as quais eles competiam no mercado para produzir coisas úteis. Tornaram-se enormemente ricos a partir da inovações precisamente por causa garantida pela rentabilidade garantida pelo estado a essas inovações.
No blog Cafe Hayek, Don Boudreaux estende o argumento de Wilkinson – e de forma muito menos sutil. O título de seu texto – "Bill Gates Has As Much Control Over My Life As I Have Over His[4]" – diz tudo.
Boudreaux entusiasmadamente endossa a alegação de Wilkinson, que ele representa da seguinte maneira: "Os americanos ricos [...] são esmagadoramente empresários que servem à classe média e não predadores políticos, militares ou eclesiásticos que saqueiam os camponeses."
Deve-se admitir que Boudreaux pelo menos concedeu que é possível que algumas grandes fortunas foram adquiridas por meios políticos e não econômicos:
Após acertadamente afirmar que a riqueza não necessariamente é resultado de predações, Wilkinson prossegue na argumentação de que a maior parte da riqueza nos Estados Unidos de fato não foi conseguida através da violência e de que o país não é uma plutocracia. Nesse processo, ele comete os non sequiturs de dizer que a derrota de Meg Whitman[2] na Califórnia e o próprio fato de que ela teve que candidatar-se ao governo estadual provam de alguma maneira que não vivemos numa plutocracia.
A premissa oculta é a de que "plutocracia" se traduz – num sentido tão grosseiro que remonta a Boss Hogg[3] – em "república de bananas". Para Wilkinson, "plutocracia" se refere a condições em lugares como a América Latina, onde uma grande parte da riqueza de fato tem origens predatórias.
Contudo, um país pode ser uma plutocracia sem ser uma república de bananas como as que são comuns na América Latina. Efetivamente, um país caracterizado pelo que os neoconservadores chamam de "estado de direito", definido por muito profissionalismo e racionalidade weberiana, pode ser uma plutocracia muito mais eficiente que a latinoamericana.
Paul Goodman, ao descrever o ethos meritocrático centralizado quase 50 anos atrás em "People or Personnel", antecipou a ideia neoconservadora de "estado de direito" enquanto sistema no qual aqueles gerenciados por organizações centralizadas têm direitos especificados com devido processo dentro dessas organizações – em vez de terem independência delas. Creio que os georgistas tenham captado a base dessa distinção ao defender não uma igual justiça sob a lei, mas leis iguais.
Wilkinson negligencia a possibilidade de que a plutocracia, longe de estar relacionada com relações individuais com grupos de extermínio e generais, pode estar embutida nas próprias regras do jogo. E quanto mais aparentemente "neutras" as regras e a experiência dos tecnocratas que as administram, mais eficiente é a plutocracia em tungar suas vítimas sem qualquer reclamação evidente.
Wilkinson, então, prossegue a uma discussão acerca de quais mecanismos ele considera responsáveis pelos níveis maiores de desigualdade nos Estados Unidos nas décadas recentes. Tais mecanismos incluem bônus por habilidades excepcionais, mais mercados de "superastros" e outros em que o "vencedor leva tudo" e mudanças na governança corporativa. Ou seja, mudanças fundamentais das regras nos últimos trinta anos aumentaram drasticamente a desigualdade.
É, no mínimo, uma possibilidade que vale a pena considerar pensar que as regras em si são plutocráticas. Os níveis de desigualdade e de concentração de renda que já existiam 30 anos atrás refletiam mais de um século de união corporativista entre o estado e os grandes empresários. O que aconteceu, portanto, pode-se dizer, é que as elites plutocráticas decidiram que o sistema não era plutocrático o suficiente e mudaram as regras para produzir melhores resultados.
Wilkinson reconhece a preocupação de que o regime vigente nos Estados Unidos torna possível para as elites financeiras canalizarem dinheiro para si próprias através de meios políticos, mas continua a alegar que a maior parte dos bilionários americanos chegaram onde estão através da "produção de coisas úteis, ou da produção ou venda de coisas úteis mais eficientemente" – i.e., através de inovações.
Eu admitiria que isso é verdadeiro até certo ponto, da mesma forma que a economia soviética produzia bens com algum valor de uso e que inovavam em alguma medida. Porém, eu diria qu os bilionários atingiram sua riqueza através, principalmente, de restrições às condições sob as quais eles competiam no mercado para produzir coisas úteis. Tornaram-se enormemente ricos a partir da inovações precisamente por causa garantida pela rentabilidade garantida pelo estado a essas inovações.
No blog Cafe Hayek, Don Boudreaux estende o argumento de Wilkinson – e de forma muito menos sutil. O título de seu texto – "Bill Gates Has As Much Control Over My Life As I Have Over His[4]" – diz tudo.
Boudreaux entusiasmadamente endossa a alegação de Wilkinson, que ele representa da seguinte maneira: "Os americanos ricos [...] são esmagadoramente empresários que servem à classe média e não predadores políticos, militares ou eclesiásticos que saqueiam os camponeses."
Deve-se admitir que Boudreaux pelo menos concedeu que é possível que algumas grandes fortunas foram adquiridas por meios políticos e não econômicos:
"Exceto na medida em que os americanos ricos têm sucesso em capturar a estrutura governamental para proteger suas riquezas e privilégios, como tarifas protecionistas, suas riquezas riquezas não são 'controladas'. A riqueza é criada somente através do serviço ao consumidor – isto é, tornando os outros mais ricos – e ela abandona aqueles que não são capazes de servi-lo."
Contudo,
a referência a Bill Gates (dentre todas as pessoas) no título, à
Apple e à Southwest Airlines no meio do texto – sem mencionar,
ainda, o tom laudatório do texto como um todo – deixam claro que
essas "exceções" devem ser consideradas como desvios
pouco importantes e que ele considera a maior parte das grandes
riquezas como legítimas e adquiridas no que se pode chamar de
economia de mercado.
É verdade que eu posso ou não escolher comprar uma cópia o Microsoft Windows do Bill Gates – da mesma maneira que posso escolher comprar serviços postais de primeira classe da USPS[5]. Se eu escolher comprar uma cópia mais barata duplicada do Windows de alguém que não tenha o monopólio de copyright conferido a Gates ou mesmo um sistema operacional que use códigos diferentes para executar funções patenteadas por Gates, eu vou ter problemas junto ao estado – da mesma forma que terei grandes problemas ao buscar serviços postais de primeira classe de um concorrente da USPS.
Então Bill Gates pode até "servir a classe média" ao prover valores de uso, da mesma forma que a velha economia soviética fazia. Mas Gates adquire a maior parte de seu dinheiro através do controle dos termos segundo os quais seus competidores são capazes de oferecer valores de uso.
Boudreaux negligencia completamente a extensão pelas quais as grandes fortunas resultam de rendimentos sobre direitos de propriedade artificiais e escassez artificial – sobre a restrição estatal do acesso a oportunidades naturais e controles dos termos sobre os quais se permite competir com quem já está estabelecido no mercado.
Ao perceber a enxurrada de comentários negativos, principalmente ao texto de Boudreaux, Wilkinson e o próprio Boudreaux – para crédito deles – voltaram atrás, de certa maneira.
É verdade que eu posso ou não escolher comprar uma cópia o Microsoft Windows do Bill Gates – da mesma maneira que posso escolher comprar serviços postais de primeira classe da USPS[5]. Se eu escolher comprar uma cópia mais barata duplicada do Windows de alguém que não tenha o monopólio de copyright conferido a Gates ou mesmo um sistema operacional que use códigos diferentes para executar funções patenteadas por Gates, eu vou ter problemas junto ao estado – da mesma forma que terei grandes problemas ao buscar serviços postais de primeira classe de um concorrente da USPS.
Então Bill Gates pode até "servir a classe média" ao prover valores de uso, da mesma forma que a velha economia soviética fazia. Mas Gates adquire a maior parte de seu dinheiro através do controle dos termos segundo os quais seus competidores são capazes de oferecer valores de uso.
Boudreaux negligencia completamente a extensão pelas quais as grandes fortunas resultam de rendimentos sobre direitos de propriedade artificiais e escassez artificial – sobre a restrição estatal do acesso a oportunidades naturais e controles dos termos sobre os quais se permite competir com quem já está estabelecido no mercado.
Ao perceber a enxurrada de comentários negativos, principalmente ao texto de Boudreaux, Wilkinson e o próprio Boudreaux – para crédito deles – voltaram atrás, de certa maneira.
"A estrutura institucional do capitalismo de produção em massa dos Estados Unidos, como existe desde o começo da Grande Depressão, é quase comparável ao primeiro plano quinquenal de seus contemporâneos soviéticos. O New Deal foi só uma intervenção que buscava estabilizar um sistema que era instável porque já era corporativista em seu núcleo."
Wilkinson, num texto a seguir ("Patterns versus rules: A caveat[6]", Democracy in America, 23 de novembro), expressou algumas reservas sobre o sumário de Boudreaux de seu argumento:
"Tenho
cada vez mais dúvidas a respeito de se as fortunas dos mais ricos
americanos serem resultado evidente de criação de riquezas e não
efeitos de regras institucionais que determinam vencedores e
perdedores. A organização de nossa economia, política e
instituições legais tem consequências distributivas
complicadíssimas, e faz com que seja impossivelmente difícil
especular o quanto de uma riqueza em particular deriva da criação
de valor econômico verdadeiro e quanto deriva de subsídios
implícitos numa ordem de mercado que desvie mesmo que suavemente de
uma situação de competição perfeita como descrita nos livros."
Por
exemplo, a respeito da Apple, Wilkinson diz: "toda a indústria
de computadores existe e opera dentro de uma estrutura de leis de
propriedade intelectual que não passa de um sistema de concessões e
monopólios governamentais." Quanto à Southwest Airlines,
Wilkinson argumenta que ela compete numa estrutura maior de
regulamentações e subsídios governamentais ao transporte.
Assim, as corporações dominantes pode até competir entre si – mas num cenário muito restrito, com modelos de negócios definidos pelo governo, o qual impõe restrições competitivas que beneficiam principalmente as empresas estabelecidas.
Wilkinson conclui com uma tentativa de esclarecimento sobre seu texto anterior:
Assim, as corporações dominantes pode até competir entre si – mas num cenário muito restrito, com modelos de negócios definidos pelo governo, o qual impõe restrições competitivas que beneficiam principalmente as empresas estabelecidas.
Wilkinson conclui com uma tentativa de esclarecimento sobre seu texto anterior:
"Quando
eu reclamo das lamentações acerca da desigualdade de renda nos
Estados Unidos, eu não quero negar que as instituições americanas
produzem 'predadores políticos, militares ou eclesiásticos que
saqueiam os camponeses', ou afirmar que os padrões americanos de
renda e riqueza refletem proceduralmente as regras de jogo ideais.
Tenho certeza de que Boudreaux não quis dizer nada disso também."
Confrontado
com este último desafio implícito, Boudreaux também recuou um
pouco do absolutismo expressado em suas observações anteriores. Num
texto posterior ("Productionvs. Predation[7]",
Cafe Hayek, 23 de novembro, ele alegou concordar com "muito do
que se disse na resposta de Will Wilkinson". Qual proporção de
riqueza resulta da "produção de mercado para satisfazer
demandas de consumidores" e o quanto advém de privilégios
especiais é "uma questão empírica".
Esse recuo, entretanto, não foi muito grande. Sua "sensação" é que a resposta a essa questão empírica é que a "esmagadora maioria das riquezas pessoas dos Estados Unidos ainda é resultado de comportamentos criativos, empreendedores e arriscados tomados em mercados competitivos".
E mesmo que ele tenha feito uma concessão à importância dos privilégios, ele foi capaz de fazer essa observação: "a proporção das riquezas pessoas que hoje são resultados de privilégios governamentais injustificados é muito maior hoje do que antes dos anos 1930." Ao fazer isso, ele reitera um tema comum entre a direita libertária, de que, comparativamente, o período antes do New Deal foi algum tipo de era de ouro da economia laissez-faire. Ironicamente, essa posição é um espelho de muitos comentários de pessoas mais ignorantes em história do Kos e do HuffPo[8], que caracterizam o New Deal como uma distopia de livre mercado.
É até difícil decidir como começar uma resposta para algo desse tipo. Há o cercamento de grandes parcelas de terra não-usadas empreendidas pelos barões coloniais (sem mencionar as gigantescas companhias de terras das quais nossos ilustres pais fundadores foram acionistas). Há o papel da escravidão e da servidão voluntária no controle dos trabalhadores no século 19 e as leis Jim Crow como ferramentas de exploração laboral. As concessões de terras para ferrovias, que provavelmente desequilibraram a economia em detrimento de distritos industriais locais e em prol da produção centralizada que se seguiu. As tarifas protecionistas, que eram tradicionalmente vistas como a "mãe dos cartéis". Não se esquecendo também das patentes (o controle, a troca e a combinação de patentes foram uma das principais maneiras de cartelização de muitas indústrias). Além disso tudo, há também o regime regulatório da era progressista, cujo principal propósito era tornar a economia segura para oligopólios estáveis (e.g., as restrições da FTC e do Clayton Act a práticas "anti-competitivas" como vender abaixo dos custos.
Em suma, a estrutura institucional do capitalismo de produção em massa dos Estados Unidos, como existe desde o começo da Grande Depressão, é quase comparável ao primeiro plano quinquenal de seus contemporâneos soviéticos. O New Deal foi só uma intervenção que buscava estabilizar um sistema que era instável porque já era corporativista em seu núcleo.
Modestas como possam parecer as concessões de Wilkinson e Boudreaux, estou convencido de que nada do tipo teria acontecido dez ou quinze anos atrás. Até então, comentários dessa natureza passariam completamente despercebidos pela imprensa libertária tradicional. O fato de que dois artigos foram sujeitos a esse escrutínio crítico e que os autores sentiram a necessidade de reavaliar suas posições reflete dois tipos de desenvolvimento.
Primeiro, o crescimento da cultura interligada e hiperlinkada da internet. Por causa dela, é possível que qualquer um que tenha um pouco de dinheiro tenha sua própria impressora e possa publicar respostas críticas a artigos de autores consagrados. Nesse processo, é possível pensar em linkar não somente ao artigo original mas a todas as evidências que forem usadas na resposta – o que costumava se chamar de "fisking", embora essa não seja uma palavra muito em voga atualmente. Isso significa que os comentários libertários não estão mais restritos por publicações de alto custo, fundações, think tanks ou doadores ricos.
Segundo, indica o advento de uma coesa e consciente esquerda de livre mercado. Esta comunidade se aglutinou em movimentos como a Alliance of the Libertarian Left e a comunidade de escritores do Center for a Stateless Society. Nós não apenas mencionamos de passagem a distinção entre "pró-mercado" e "pró-empresas", nós fazemos com que isso sejam o ponto central de nossa análise.
Como afirmou o prof. Roderick Long, diretor do Molinari Institute, organização que originou o C4SS, os libertários tradicionalmente tinham um tipo de problema de figura-fundo[9]. Eles, tendo uma afinidade cultural com a Old Right e o Partido Republicano após décadas de aliança anti-comunista e anti-New Deal, olharam para a economia corporativista existente e pensaram que o estatismo presente nela tratava-se de apenas uma fricção num sistema essencialmente de mercado.
Na esquerda de livre mercado, por outro lado, nós olhamos para a economia corporativista e a vemos como definida essencialmente pelo estatismo. Vemos como nossa tarefa defender o mercado livre e a liberdade humana como tal – e não defender a maior parte das grandes empresas atuais e concentrações de renda existente.
Nossa influência é crescente sobre os termos do debate.
Esse recuo, entretanto, não foi muito grande. Sua "sensação" é que a resposta a essa questão empírica é que a "esmagadora maioria das riquezas pessoas dos Estados Unidos ainda é resultado de comportamentos criativos, empreendedores e arriscados tomados em mercados competitivos".
E mesmo que ele tenha feito uma concessão à importância dos privilégios, ele foi capaz de fazer essa observação: "a proporção das riquezas pessoas que hoje são resultados de privilégios governamentais injustificados é muito maior hoje do que antes dos anos 1930." Ao fazer isso, ele reitera um tema comum entre a direita libertária, de que, comparativamente, o período antes do New Deal foi algum tipo de era de ouro da economia laissez-faire. Ironicamente, essa posição é um espelho de muitos comentários de pessoas mais ignorantes em história do Kos e do HuffPo[8], que caracterizam o New Deal como uma distopia de livre mercado.
É até difícil decidir como começar uma resposta para algo desse tipo. Há o cercamento de grandes parcelas de terra não-usadas empreendidas pelos barões coloniais (sem mencionar as gigantescas companhias de terras das quais nossos ilustres pais fundadores foram acionistas). Há o papel da escravidão e da servidão voluntária no controle dos trabalhadores no século 19 e as leis Jim Crow como ferramentas de exploração laboral. As concessões de terras para ferrovias, que provavelmente desequilibraram a economia em detrimento de distritos industriais locais e em prol da produção centralizada que se seguiu. As tarifas protecionistas, que eram tradicionalmente vistas como a "mãe dos cartéis". Não se esquecendo também das patentes (o controle, a troca e a combinação de patentes foram uma das principais maneiras de cartelização de muitas indústrias). Além disso tudo, há também o regime regulatório da era progressista, cujo principal propósito era tornar a economia segura para oligopólios estáveis (e.g., as restrições da FTC e do Clayton Act a práticas "anti-competitivas" como vender abaixo dos custos.
Em suma, a estrutura institucional do capitalismo de produção em massa dos Estados Unidos, como existe desde o começo da Grande Depressão, é quase comparável ao primeiro plano quinquenal de seus contemporâneos soviéticos. O New Deal foi só uma intervenção que buscava estabilizar um sistema que era instável porque já era corporativista em seu núcleo.
Modestas como possam parecer as concessões de Wilkinson e Boudreaux, estou convencido de que nada do tipo teria acontecido dez ou quinze anos atrás. Até então, comentários dessa natureza passariam completamente despercebidos pela imprensa libertária tradicional. O fato de que dois artigos foram sujeitos a esse escrutínio crítico e que os autores sentiram a necessidade de reavaliar suas posições reflete dois tipos de desenvolvimento.
Primeiro, o crescimento da cultura interligada e hiperlinkada da internet. Por causa dela, é possível que qualquer um que tenha um pouco de dinheiro tenha sua própria impressora e possa publicar respostas críticas a artigos de autores consagrados. Nesse processo, é possível pensar em linkar não somente ao artigo original mas a todas as evidências que forem usadas na resposta – o que costumava se chamar de "fisking", embora essa não seja uma palavra muito em voga atualmente. Isso significa que os comentários libertários não estão mais restritos por publicações de alto custo, fundações, think tanks ou doadores ricos.
Segundo, indica o advento de uma coesa e consciente esquerda de livre mercado. Esta comunidade se aglutinou em movimentos como a Alliance of the Libertarian Left e a comunidade de escritores do Center for a Stateless Society. Nós não apenas mencionamos de passagem a distinção entre "pró-mercado" e "pró-empresas", nós fazemos com que isso sejam o ponto central de nossa análise.
Como afirmou o prof. Roderick Long, diretor do Molinari Institute, organização que originou o C4SS, os libertários tradicionalmente tinham um tipo de problema de figura-fundo[9]. Eles, tendo uma afinidade cultural com a Old Right e o Partido Republicano após décadas de aliança anti-comunista e anti-New Deal, olharam para a economia corporativista existente e pensaram que o estatismo presente nela tratava-se de apenas uma fricção num sistema essencialmente de mercado.
Na esquerda de livre mercado, por outro lado, nós olhamos para a economia corporativista e a vemos como definida essencialmente pelo estatismo. Vemos como nossa tarefa defender o mercado livre e a liberdade humana como tal – e não defender a maior parte das grandes empresas atuais e concentrações de renda existente.
Nossa influência é crescente sobre os termos do debate.
Notas do Tradutor
[1] "Desigualdade e plutocracia: Isso aqui não é uma república de bananas".
[2] Meg Whitman é uma das mulheres mais ricas dos Estados Unidos, atualmente é CEO da HP. Já serviu como executiva da Walt Disney, Dreamworks, Procter & Gamble, Hasbro e eBay.
[3] Boss Hogg era o comissário caricatural e vilão da série de TV americanaThe Dukes of Hazzard, exibida até 1985.
[4] "Bill Gates tem tanto controle sobre a minha vida quanto eu tenho sobre a dele".
[5] USPS é o serviço postal do governo americano.
[6] "Padrões versus regras: Uma ressalva".
[7] "Produção versus predação".
[8] Refere-se aos comentários feitos nos sites Daily Kos e Huffington Post, tipicamente esquerdistas.
[9] Clássico fenômeno estudado na psicologia gestalt.
[1] "Desigualdade e plutocracia: Isso aqui não é uma república de bananas".
[2] Meg Whitman é uma das mulheres mais ricas dos Estados Unidos, atualmente é CEO da HP. Já serviu como executiva da Walt Disney, Dreamworks, Procter & Gamble, Hasbro e eBay.
[3] Boss Hogg era o comissário caricatural e vilão da série de TV americanaThe Dukes of Hazzard, exibida até 1985.
[4] "Bill Gates tem tanto controle sobre a minha vida quanto eu tenho sobre a dele".
[5] USPS é o serviço postal do governo americano.
[6] "Padrões versus regras: Uma ressalva".
[7] "Produção versus predação".
[8] Refere-se aos comentários feitos nos sites Daily Kos e Huffington Post, tipicamente esquerdistas.
[9] Clássico fenômeno estudado na psicologia gestalt.
Kevin
Carson é
associado sênior do Centerfor a Stateless Society (c4ss.org).
Ele é um mutualista e anarco-individualista cujos trabalhos
incluem Studies in Mutualist Political Economy, OrganizationTheory: A Libertarian Perspective,
e The Homebrew Industrial Revolution: A Low-Overhead Manifesto,
todos disponíveis online.
Traduzido por Erick Vasconcelos
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