Por Francisco
Trindade
Proudhon
critica por um lado o capitalismo, por outra parte o estatismo.
Dum
lado, é o triunfo do“direito ao lucro”, a apropriação privada
da mais valia que resulta do desvio entre o que produz a convergência
das forças e o que produz a simples adição das mesmas forças
tomadas uma a uma: como não são pagas a não ser as forças
individuais, nunca a soma dos salários é suficiente para comprar o
que é o fruto do trabalho colectivo.
Há
portanto por sua vez denegação da especificidade do colectivo (só
se quer ver indivíduos) e açambarcamento do que resulta desta
especificidade (a mais valia). São deste modo confiscados à
sociedade as forças que entretanto dela emanam; a sociedade volta-se
contra ela própria, e aparecem potências que, nascidas no seu seio,
dela pendem.
De
outro lado, o Estado aparece como “a constituição exterior da
potência social” ou a “constituição externa da potência
colectiva”. Pretender reorganizar a sociedade pelo Estado voltaria
por conseguinte a finalizar o retorno desta contra ela própria.
Encontramos na vertente política, parece, a mesma lógica
fundamental que era empregue na vertente económica.
Indo
um pouco mais rápido, poderíamos concluir que projectando
constituir “interiormente” as potências sociais, Proudhon visa
do mesmo golpe abolir toda a política. Seria parar na
fase“destruidora” da obra e esquecer a sua fase “reconstruidora”.
"O mutualismo não se opõe à economia de mercado (...) Noutros termos, “economia de mercado” e “capitalismo” estão longe de ser considerados como sinônimos; explorar esta diferença constituirá sem dúvida uma questão fundamental em termos de futuro."
O
mutualismo é antes de tudo a forma principal que toma em Proudhon a
reconquista da sociedade por ela própria no campo econômico. Mas
também é a articulação ou o dinamismo do que será a reconquista
no campo político.
O
mutualismo não se opõe à economia de mercado; Quer-se pelo
contrário a mais transparente realização. Noutros termos, “economia
de mercado” e “capitalismo” estão longe de ser considerados
como sinônimos; explorar esta diferença constituirá sem dúvida
uma questão fundamental em termos de futuro.
Além
do estudo da formação e dos princípios econômicos de Proudhon,
além da análise da sua dívida a respeito dos movimentos operários
do seu tempo, além do que se refere a Proudhon à teoria e à
prática do mutualismo é importante o enriquecimento de contributos
relativos a concepções que, contemporâneos, ou não, podem estar
bem próximas como antagónicas: “a
cessação do antagonismo, e por consequência a morte”,
escrevia um certo autor Bisontin.
Publicado
originalmente em Anovis Anophelis.