Por
Karl Hess
O
Libertarianismo é claramente o mais, talvez o único, movimento
verdadeiramente radical na América. Ele entende os problemas da
sociedade em sua raiz. Não é reformista em sentido algum. É
revolucionário em todo sentido.
Porque
a maioria de seus adeptos, entretanto, veio da direita, ainda paira
sobre ele uma aura, ou, talvez, um miasma de defensividade, como se
seus interesses realmente se centrassem em, por exemplo, defender
propriedade privada. A verdade, é claro, é que o libertarianismo
deseja avançar os princípios da propriedade mas de forma alguma
pretende defender, sem mais nem menos, toda propriedade que
atualmente é chamada de privada.
Muita
dessa propriedade é roubada. Muita é de título duvidoso. Está
profundamente interligada com um sistema estatal coercitivo, imoral,
que sancionou, constituiu e lucrou com a escravidão; se expandiu e
explorou através de uma política externa imperial e colonial brutal
e agressiva, e continua a manter as pessoas numa relação a grosso
modo de servo-mestre com concentrações de poder político-econômico.
Os
Libertários estão preocupados, primeiro e acima de tudo, com a mais
valiosa das propriedades, a vida de cada indivíduo. Esta é a
propriedade mais brutal e constantemente abusada pelos sistemas
estatais, sejam eles de direita ou de esquerda. Direitos de
propriedade relacionados a objetos materiais são vistos por
libertários como emanando, e como um importante secundário do
direito de possuir, direcionar, e desfrutar de sua própria vida e
daqueles acessórios adicionais que podem ser adquiridos sem coerção.
Os
Libertários, em resumo, simplesmente não acreditam que o roubo é
apropriado se é cometido em nome de um Estado, classe, crise, credo
ou clichê.
Isso
está muito longe de compartilhar opiniões com aqueles que desejam
criar uma sociedade na qual super-capitalistas estão livres para
juntar grandes posses e com aqueles que dizem que isso é o propósito
mais importante da liberdade. Isso é nonsense proto-heróico.
O
Libertarianismo é um movimento popular e um movimento de libertação.
Ele procura um tipo de sociedade livre, não coercitiva, na qual as
pessoas, vivas, livres e distintas, possam se associar livremente,
desassociar, e, como bem julgarem, participar nas decisões que
afetam suas vidas. Isso significa um verdadeiro livre mercado em tudo
desde idéias até idiossincrasias. Significa pessoas livres
coletivamente para organizar os recursos de sua comunidade mais
próxima ou organiza-los individualmente; significa a liberdade de
ter um judiciário baseado e apoiado na comunidade aonde desejado,
nenhum onde se preferir, ou serviços de arbitração privada aonde
isto é visto como mais desejável. O mesmo com a polícia. O mesmo
com escolas, hospitais, fábricas, fazendas, laboratórios, parques e
pensões. A liberdade significa o direito de moldar suas próprias
instituições. Ela se opõe ao direito dessas instituições te
moldarem simplesmente graças a um poder acumulado ou status
gerontológico.
Para
muitos, entretanto, esses princípios fundamentais do libertarianismo
radical continuarão meras abstrações, e até mesmo suspeitos, até
que se desenvolvam e propostas específicas, agressivas.
Não
há praticamente nada radical, por exemplo, naqueles que dizem que os
pobres deveriam ter uma cota maior da receita Federal. Isso é
reacionário, pedir que a instituição do roubo estatal seja feita
mais palatável ao distribuir sua pilhagem para pessoas mais
simpáticas. Talvez ninguém lúcido pudesse se opor mais a dar
fundos Federais para pessoas pobres do que gastar o dinheiro no
assassinato de combatentes camponeses Vietnamitas. Mas argumentar
tais méritos relativos deverá acabar sendo simplesmente reformistas
e não revolucionário.
Libertários
poderiam e deveriam propor táticas revolucionárias específicas e
metas as quais tenham significado para pessoas pobres e para todas as
pessoas; analisá-las profundamente e demonstrar-lhes com exemplos o
significado da liberdade, liberdade revolucionária.
Eu, por exemplo, rogo ardentemente tal pensamento de meus camaradas.
As propostas deveriam levar em conta o tratamento revolucionário da propriedade roubada “privada” e “pública” em termos libertários, radicais e revolucionários; os fatores que têm oprimido as pessoas até então, e tudo o mais. Murray Rothbard e outros teorizaram muito nessa direção, mas não é justo o bastante que apenas tão poucos carreguem o fardo.
Deixem me propor apenas alguns poucos exemplos de questões específicas, radicais e revolucionárias as quais os membros de nosso Movimento poderiam muito bem se perguntar.
Eu, por exemplo, rogo ardentemente tal pensamento de meus camaradas.
As propostas deveriam levar em conta o tratamento revolucionário da propriedade roubada “privada” e “pública” em termos libertários, radicais e revolucionários; os fatores que têm oprimido as pessoas até então, e tudo o mais. Murray Rothbard e outros teorizaram muito nessa direção, mas não é justo o bastante que apenas tão poucos carreguem o fardo.
Deixem me propor apenas alguns poucos exemplos de questões específicas, radicais e revolucionárias as quais os membros de nosso Movimento poderiam muito bem se perguntar.
- Posse da terra e/ou uso da mesma numa situação de poder estatal declinante. A situação de Tijerina [1] sugere uma abordagem. Podem haver muitas outras. E quanto (realisticamente, não romanticamente) a responsabilidade e prevenção da poluição do ar e da água?
- Direitos ou deveres de trabalhadores, acionistas e comunidade em estabelecimentos produtivos em termos de análise libertária e propostas específicas num contexto radical e revolucionário. O que, por exemplo, poderia ou deveria acontecer com a General Motors numa sociedade livre?
De
particular interesse para mim de qualquer maneira, é focar análise
libertária e ingenuidade em acabar a grande tarefa inacabada da
abolição da escravatura. Simplesmente deixar os escravos livres,
num mundo ainda dominado por seus mestres, foi obviamente uma
injustiça histórica. (Os Libertários sustentam que o Sul deveria
ter sido permitido se separar para que os próprios escravos,
juntamente com seus amigos Nortistas, pudessem ter construído um
movimento de libertação revolucionário, subjugado seus antigos
mestres, e assim delineado as reparações de revolução.)
Pensamentos em reparações hoje em dia estão perturbados por
preocupações de que estas seriam praticadas contra pessoas
inocentes que de maneira alguma estavam ligadas à opressão antiga.
Há uma área na qual isso pode ser evitado: o uso de terras e
estabelecimentos “possuídos” pelo governo como itens de troca
para compensar os descendentes de escravos e tornar possível a eles
participar nas comunidades da terra, finalmente, como iguais e não
como dependentes.
Em
algum lugar, devo supor, existe um libertário que, compartilhando a
idéia, possa elaborar uma proposta boa e consistente para a justiça
nesta área.
Obviamente
a lista é interminável. Mas o ponto é finito e precisamente
focalizado.
Com
o libertarianismo se desenvolvendo agora como Movimento, ele requer
seria e urgentemente propostas inovadoras, metas específicas e
radicais, e uma agenda revolucionária que possa traduzir seus
grandes e perenes princípios em cursos oportunos e poderosos de ação
possível ou até mesmo prática.
“Que país pode preservar suas liberdades se seus comandantes não são avisados de tempos em tempos que seu povo preserva o espírito de resistência? Eles que se armem.”
Thomas Jefferson, 1787
The
Libertarian Fórum, 15 de Junho de 1969
Nota
do Tradutor
[1]
Sobre Reies Tijerina.
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Karl Hess foi um escritor e ativista político americano. Sua carreira inclui desde passagens no Partido Republicano à integrante do movimento Nova Esquerda, onde defendeu até o fim de sua vida o anarquismo de mercado.
Traduzido
por Rafael Hotz.
- Libertários pela redistribuição - por Gary Chartier