domingo, 27 de abril de 2014

Proudhon e Bakunin: polar opostos?


Por Jakob Pettersson “Sushigoat”

Proudhon e Bakunin, tradicionalmente, representam dois lados diferentes da moeda da anarquia: o individualista e o coletivista. Enquanto Proudhon acreditava que o “Livre Contrato” é o objetivo da anarquia, Bakunin enfatizava a unidade coletiva como o libertador único do homem. Bakunin é geralmente citado como dizendo o seguinte:

Quão ridículas são as ideias dos individualistas da escola de Jean Jacques Rousseau e dos mutualistas proudhonianos que concebem a sociedade como o resultado do livre contrato de indivíduos absolutamente independentes de um do outro e entrando em relações mútuas somente por causa da convenção elaborada entre homens. Como se estes homens tivessem caídos dos céus, trazendo com eles a linguagem, o arbítrio, a reflexão original e como se eles fossem estrangeiros a qualquer coisa da terra, isto é, qualquer coisa tendo origem social.”


Todavia, o abismo entre eles não era realmente tão grande como é compreendido por ser pelos anarquistas contemporâneos. Certamente não era tão grande quanto a lacuna entre anarquistas coletivistas e individualistas são hoje. Coletivistas contemporâneos geralmente se aderem a alguma forma de Comunismo de Conselho ou Economia Participativa, enquanto individualistas geralmente se inclinam em direção a adoração de mercado dos austríacos (Rothbard e Konkin) ou a boemia hippie da multidão “pós-esquerda” (Zerzan e Bob Black). Eu imaginaria que Bakunin e Proudhon teria aprovado nenhuma destas facções ou, pelo menos, teria tido algumas queixas sérias.

A partir do que li, os esquemas políticos e econômicos de Bakunin são formas mais similares daquelas de Proudhon do que daquelas dos anarco-comunistas. Bakunin acreditava em um sistema de mercado baseado na Teoria do Valor-trabalho, assim como Proudhon acreditava. Ambos tinham teorias sobre um Banco de Câmbio, embora não idênticas. Bakunin também herdou o federalismo de Proudhon. Em meu entendimento, é a ênfase na comunalidade, fazer decisão coletiva e ação coletiva que diferencia Bakunin de Proudhon, completamente separado das dicotomias modernas de “mercado vs comunismo”. Proudhon, embora sendo um apoiador de cooperativas de trabalhadores e de outros empreendimentos cooperativos, não se importava muito por “coletivismo por causa do coletivismo”, isto é, coletivizar uma indústria ou comércio que pudesse ser manuseado individualmente. Bakunin argumentava que trabalho coletivo “aumenta a moral” e é mais eficiente.

O apoio de Bakunin de um sistema de mercado distorce algumas concepções modernas do que é um “livre mercado”. Certamente, existe uma forma de troca e ainda existe salários na forma de notas de ordem de pagamento [N. T.: no original, labour notes], mas é um “livre mercado”? Parece mais como uma forma de democracia descentralizada e comunal social para mim. Alguma coisa interfere e controla a economia; a livre comuna, embora claramente não um “governo”. É um “livre mercado” simplesmente “trocas econômicas sem interferência governamental”, ou está atrelado às concepções das políticas econômicas libertárias de direita? Oh bem, uma coisa é certa; os debates circulantes de assuntos sem estado hoje não são representativos aos debates a respeito de assuntos sem estado no século 19.

O coletivismo bakuninista não é uma ideologia muito difundida hoje, muito embora ela é ainda citada e admirada. Os individualistas não se importam pela filosofia dele e os comunistas não se importam pela economia dele. As ideias de Proudhon viveram, de forma breve, na adaptação de William B. Greene de suas ideias sobre comércio bancário e nos Anarquistas de Boston, mas extinguiram no início do século 20. A falácia é para assumir que, por causa das ideias deles não são discutidas, as ideias não são relevantes.

Assume-se que Kropotkin “desbancou” o anarquismo coletivista de Bakunin em seu ensaio intitulado “The collectivist wages-system”, mas o fato é que não havia realmente ninguém da escola bakuninista para defender o mercado comunal publicamente, ao menos não em meu conhecimento. Então não é uma enorme vitória. Enquanto Proudhon, é adotado que Böhm-Bahwerk desbancou a teoria do valor-trabalho (aquele que nem abordou Proudhon), que Rothbard desbancou a teoria dele de banco mútuo, embora isso é uma vitória vã, uma vez que realmente não havia nenhum proudhoniano reconhecido para abordar estas críticas. E porque não havia ninguém para responder estas críticas post-mortem de Bakunin e Proudhon, espantalhos foram mais facilmente permissíveis.


Conforme o estudo da relação entre o coletivismo de Bakunin e o mutualismo de Proudhon, você obtém um senso mais profundo do contexto histórico do que você poderia obter por apenas assumir que Proudhon era um individualista laissez faire e Bakunin um comuna anti-mercado (apesar de eu enxergar de onde vieram essas ideias ). Proudhon e Bakunin eram ambos pessoas únicas e complexas e devem ser tratados como tal. Eles eram antagonistas às vezes, é verdade, mas eles compartilham mais um com outro do que com qualquer outra facção do anti-estatismo moderno.

Traduzido por Rodrigo Viana. Para ler o artigo original clique aqui.



Sushigoat é um blog que aborda assuntos corriqueiros, bem como anarquismo.