Por Karl Hess
Minha
própria noção de política é a aquela que segue uma linha reta em
vez de um círculo. A linha reta estende-se a partir da
extrema-direita, de onde (historicamente) encontramos a monarquia,
ditaduras absolutas e outras formas de governo absolutamente
autoritários. Na extrema-direita, lei e ordem significam a lei do
governante e a ordem que serve o interesse desse governador,
geralmente a ordem de trabalhadores preguiçosos, de estudantes
submissos, de anciãos tanto totalmente intimidados à lealdade
quanto totalmente doutrinados e treinados para essa lealdade.
Igualmente Joseph Stalin e Adolph Hitler operaram regimes de direita,
politicamente, apesar das armadilhas do socialismo com o qual ambos
adornaram seus regimes. Huey Long,
no tempo de governador-chefe do estado da Louisiana, estava se
movendo em direção a um regime verdadeiramente de direita, também
adornado com muitas armadilhas do socialismo (especialmente obras
públicas e assistencialismo) mas mantida em conjunta não por
benefícios sociais, mas por uma força policial forte e um fluxo
estável de dinheiro para subsidiar e favorecer empresários.
Um presidente americano poderia
ser dito a mover-se em direção à direita, na medida que ele tende
a tomar decisões políticas absolutamente unilaterais, com nenhuma
referência ao congresso, por exemplo, ou ao povo em geral. E quando
a legitimidade do regime fosse apoiada ou feita verdadeiramente mais
por pura força, por exemplo, de força policial ao invés de
obediência voluntária das pessoas em geral. Tal regime, também,
estaria suscetível a reprimir ou engolir centros de competição de
poder em potencial, como os sindicatos. Grandes interesses
financeiros, contudo, supondo as relações de Adolph Hitler com a
indústria, por exemplo, possa ser considerado instrutivo, seria
comprado ao invés de combatido com gordos contratos e uma
oportunidade contínua para enriquecer seus proprietários. Joseph
Stalin, claro, não teve problema com nada, como os sindicatos
independentes ou empresas, desde que ambos tivessem sido mortos
anteriormente.
A
característica geral
de
um regime de direita, não importa os detalhes de diferença entre
esse ou aquele, é que ele reflete a concentração de poder em menor
número na prática.
Poder, concentrado em poucas mãos,
é a característica histórica dominante do que a maioria das
pessoas, na maioria das vezes, considerou a direita política e
econômica.
A extrema-esquerda, tão longe
quanto você possa sair da direita, na verdade, logicamente
representa a tendência oposta e, de fato, já fez exatamente isso ao
longo da história. A esquerda tem sido o lado da política e da
economia que se opõe a concentração de poder e riqueza e, ao
contrário, defende e trabalha em direção a distribuição de poder
dentro do número máximo de mãos.
Assim como a escala ao longo dessa
linha mostraria gradações da direita, também mostraria gradações
da esquerda.
Antes de atingir a monarquia ou
ditadura de extrema-direita, existe muitas posições da direita
intermediária. Alguns são chamados de conservador.
Em algum lugar ao longo da linha,
por exemplo, de uma determinada concentração de poder,
particularmente poder econômico, seria aceitável, em nome da
tradição. Os filhos dos ricos, característicamente, são
concedidos a locais muito especiais nos regimes de direita, ou de
conservadores. Além disso, há uma grande deferência à
estabilidade e uma preferência por ela ao invés de mudança –
todas as outras coisas sendo iguais. Atenção pode ser o lema em
direção ao centro da escala dessa direita, simplesmente uma atitude
vagarosa. Isto é, reconhecidamente, um longo caminho desde a
extrema-direita e a ditadura, porém é um modo que pode e deveria
ser mensurado em uma linha reta. A preferência natural pela lei e
ordem que parece isso como valer a pena e a preferência conservadora
inocente é de uma tradição política que veio a nós a partir dos
reis e imperadores, não da antiga democracia.
Isso dificilmente significa que
todo conservador, se pressionado, vai mais longe, mais para a direita
até abraçar a ditadura absoluta ou monarquia. Longe disso. Isso
significa sugerir apenas que os fantasmas do poder real murmuram na
tradição conservadora.
A
esquerda mostra gradações similares. A mais distante esquerda que
você possa ir, historicamente, de qualquer maneira, é o anarquismo
– a total oposição a qualquer
poder
institucionalizado, uma condição de organização social
completamente voluntária no qual as pessoas estabeleceriam seus
modos de vida, em pequenos grupos de consentimentos e cooperar com
outros como bem entenderem.
A
atitude nessa esquerda mais distante em direção a lei e a ordem foi
resumida inicialmente por um francês anarquista, Proudhon, que disse
que “a ordem é a filha e não a mãe da liberdade”. Deixe as
pessoas serem absolutamente livres, diz esse mais distante do
longínquo, a extrema-esquerda (a esquerda que o Comunismo,
regularmente, denuncia como também
esquerda.
Lenin chamou-a de “esquerda infantil”). Se eles são livres, eles
serão decentes, mas nunca poderão ser decentes até que sejam
livres. Poder concentrado, burocracia e etc, irá condenar essa
decência. Um pouco mais ao longo da linha da esquerda, pode haver
algum acordo ou, pelo menos, simpatia com esse libertarianismo de
esquerda porém, estaria dito, existe razões práticas e imediatas
para adiar esse tipo de liberdade. As pessoas simplesmente não estão
prontas para isso. A grosso modo, essa é a posição do Partido Comunista hoje...
De
qualquer forma, em algum ponto no espectro, há uma notável posição
progressista moderna americana. Através de uma série de distorções
lamentáveis porém certamente compreensível da terminologia
política, a posição progressista passou a ser conhecida como uma
posição de esquerda. Na verdade, situa-se ao lado da tradição
conservadora, em direção ao meio da linha, mas decididamente, eu
penso, à direita de seu centro. Os progressistas acreditam em poder
concentrado – nas mãos dos progressistas, a elite supostamente
instruída e fina. Eles acreditam em concentrar esse poder de forma
tão forte e efetiva quanto possível. Acreditam no grande tamanho do
empreendimento, seja corporativo ou político, e tem um grande e
profundo desdém pelo simples e pelo
local.
Pensam em nível nacional, mas também pensam em nível global e,
hoje em dia, até mesmo em nível intergalático. Na verdade, por
acreditarem muito mais no governo autoritário do que de muitos
conservadores, provavelmente seria melhor dizer que os progressistas
se encontram próximos, mas, na verdade, à direita
de
muitos conservadores.
Karl Hess foi um escritor e ativista político americano. Sua carreira inclui desde passagens no Partido Republicano à integrante do movimento Nova Esquerda, onde defendeu até o fim de sua vida o anarquismo de mercado.
Traduzido por Rodrigo Viana