Por Rodrigo Viana
Durante muito tempo os anarquistas ficaram renegados, esquecidos dos debates sobre teoria econômica. Apoiando-se em teorias que ultrapassam as contas dos anos (coisa de mais de um século), este grupo esteve por muito tempo órfão de uma base sólida e própria para suas reivindicações. Mas isso já não precisa ser mais assim.
Após o abandono da escola clássica como força principal dos meios de influência, muitas outras escolas econômicas surgiram e outras caíram num profundo esquecimento. Muitas nasceram após esse tempo, que se mantiveram como forças ativas no século 20, sequer estão presentes nos grandes debates atuais. Esse é o caso da escola econômica marxista que, por sinal, vive sua decadência. Tendendo ao isolamento, sobrevive apenas em pequenos círculos. Por outro lado, escolas outrora esquecidas vem retornando ao debate econômico com força total. Um exemplo disso é escola austríaca.
Pegando gancho nesse revival eis que a escola econômica original do anarquismo, o mutualismo, ressurge imponente. Lembrada pelos nomes de Pierre-Joseph Proudhon na Europa e Josiah Warren nos Estados Unidos, o mutualismo reaparece como uma alternativa verdadeira para os anarquistas, independente das correntes, se adentrarem nos debates econômicos no século 21.
Totalmente reformulada sob os escritos de Kevin Carson, esse "novo" mutualismo se apresenta resgatando a vilipendiada teoria do valor trabalho clássico, incorporando nela novos atributos dos quais variadas escolas econômicas modernas apresentaram durante o tempo. Bem como agregando novas perspectivas para libertários em geral. É nesse espírito que é concebido o Estudos na Economia Política Mutualista.
Kevin Carson inicia fazendo críticas profundas sobre a visão "inocente" que os economistas marginalistas tinham dos clássicos. Critica também a teoria do valor-trabalho de caráter normativo defendida por Marx, a visão absoluta da teoria da utilidade marginal defendida pelos marginalistas (incluindo os austríacos) e muito mais.
Através de pesquisas contundentes, Carson argumenta que o subjetivismo sempre esteve presente nos escritos de Adam Smith e David Ricardo, embora não explícito. Deste modo, é absorvido as contribuições teóricas positivas que surgiram com o tempo, de modo que elas são incorporadas em sua teoria. Como a teoria da utilidade marginal e a teoria da preferência temporal austríaca que são inseridas na teoria do valor-trabalho. Tudo seguindo uma construção teórica a priori como estabelecida pela praxeologia de Ludwig von Mises.
O Estudos..., que está sendo traduzido para o português, possui 3 partes. Na primeira é fundamentado a reformulação da teoria do valor-trabalho. Onde é estabelecido toda a base teórica do qual o livro se sustenta. Na segunda parte é analisado o capitalismo como um todo. O surgimento do capitalismo histórico com a queda do feudalismo, a consolidação do capitalismo corporativo no mundo atual e as tendências deste sistema econômico no mundo globalizado. No terceiro capítulo é discutido alternativas que fogem desse laço vicioso. Propõe novos paradigmas pelo qual ajudaria e eliminar os laços exploratórios que o mundo se encontra.
O Estudos na Economia Política Mutualista é uma defesa radical da liberdade no âmbito econômico. Para quem acha que mercados e capitalismo são sinônimos, Carson demonstra que isso nunca passou nem perto da verdade.
Enfim, o que segue abaixo é a tradução do primeiro capítulo em português, "O ataque marginalista à economia política clássica: uma avaliação e contra-ataque". Aqui Carson mostra os espantalhos dos marginalistas, sobretudo de Eugen von Böhm-Bawerk, a respeito dos economistas clássicos. A parte um, onde se fundamenta a teoria carsonista do valor-trabalho, se completa com mais dois capítulos que estão em fase de tradução. Conforme o trabalho de tradução for finalizando cada capítulo do livro (num total de nove), será postado um a um neste site. No final, os capítulos serão reunidos em um livro único. Por isso fique ligado e acompanhe o site.
Rodrigo Viana mantém o blog A Esquerda Libertária. Siga seu twitter: @VDigo