quarta-feira, 19 de março de 2014

O trabalho deve ser pago ou não?



Por Benjamin Tucker

Liberty, 28 de Abril de 1888.

Na edição de número 121 do Liberty, criticando uma tentativa de Kropotkin para identificar comunismo e individualismo, eu acusei-o de ignorar "a questão real se o comunismo permitirá o indivíduo trabalhar independentemente, possuir ferramentas, vender seu trabalho ou seus produtos e comprar o trabalho ou produtos de outros". Na visão de Herr Most isso é tão ultrajante que, na reimpressão, ele coloca as palavras "o trabalho dos outros" em letras pretas grandes. Most, sendo um comunista, ele deve, para ser consistente, objetar a compra e venda do que quer que seja; contudo, por que ele especialmente deve se objetar à compra e venda de trabalho é mais do que eu posso compreender. Realmente, na última análise, trabalho é a única coisa que tem qualquer título para ser comprado ou vendido. Existe qualquer fundamento justo de preço exceto custo? E existe alguma coisa que custa exceto trabalho ou sofrimento (outro nome para trabalho)? Trabalho deve ser pago! Horrível, não é? Ora, eu achei que o fato de que não é pago era a queixa toda. "Trabalho não remunerado" tem sido a principal reclamação de todos socialistas, e de que o trabalho deve obter sua remuneração tem sido a discórdia deles. Suponha que eu dissera a Kropotkin que a questão real é se comunismo permitirá indivíduos trocar o trabalho deles ou produtos sobre os próprios termos deles. Herr Most teria estado tão chocado? Ele teria impresso aquilo em letras pretas? Todavia, em outra forma eu disse precisamente aquilo.

Se os homens que se opõem ao salário isto é, a compra e a venda de trabalho — fossem capazes de analisar seus pensamentos e sentimentos, eles veriam que o que realmente provoca a fúria deles não é o fato de que trabalho é comprado e vendido, mas o fato de que uma classe de homens são dependentes em relação as suas vidas em consequência da venda de seu trabalho, enquanto outra classe de homens são aliviados da necessidade de trabalho por serem legalmente privilegiados a vender alguma coisa que não é trabalho, e que, exceto pelo privilégio, seria desfrutado por todos gratuitamente. E para tal estado de coisas eu estou tanto em forte oposição quanto qualquer um. Porém no momento que você remove privilégio, a classe que agora desfruta será forçada a vender seu trabalho, e então, quando haver nada além de trabalho com que para comprar trabalho, a distinção entre pagadores de salário e recebedores de salário será varrido, e todo homem será um trabalhador trocando com colegas trabalhadores. Sem abolir salários, mas tornar todo homem dependente em relação a salários e assegurar todo homem seu salário completo é o objetivo do socialismo anarquista. O que o socialismo anarquista busca para abolir é usura. Não deseja privar trabalho de sua remuneração; deseja privar capital de sua remuneração. Não se sustenta que trabalho deva não ser vendido; se sustenta que capital não deva ser empregado em usura.

Mas, diz Herr Most, essa ideia de um livre mercado de trabalho do qual privilégio é eliminado é nada mais do que "manchesterismo coerente". Bem, o que melhor um homem, que professa o anarquismo, pode desejar do que isso? Visto que o princípio do manchesterismo é liberdade e manchesterismo coerente é a aderência coerente a liberdade. A única incoerência dos homens de Manchester repousa na infidelidade deles a liberdade em algumas de suas fases. E essa infidelidade para liberdade em alguma de suas fases é precisamente a incoerência fatal da escola Freiheit, — a única diferença entre seus aderentes e os homens de Manchester é que em muitas das fases em que os últimos são infiéis os primeiros são leais, enquanto em muito daqueles em que os últimos são leais os primeiros são infiéis. Sim, anarquismo genuíno é manchesterismo coerente e comunista ou pseudo-anarquismo é manchesterismo incoerente. "Graças te dou, judeu, por ensinar-me essa palavra."


Traduzido por Rodrigo Viana.
Para ler o artigo original clique aqui.


Benjamin Tucker foi um anarco-individualista e propagador do Mutualismo nos Estados Unidos. Atuou como tradutor, teórico político e econômico e trabalhou como editor para o jornal anarquista "Liberty".

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