quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Por Que o Capitalismo Corporativo é Insustentável



Por Kevin Carson

Eu não sou marxista, mas acho muitas das ideias de Marx úteis. O velho Karl certamente tinha dom para transformar uma frase. Ninguém que poderia vir com algo tão proudhoniano quanto “os produtores associados” poderia ser de todo ruim. Uma das melhores dele, em minha opinião, foi a de que novas forças produtivas, finalmente, “tornam-se incompatíveis com seu tegumento capitalista”, ponto no qual “o tegumento está arrebentado”.

Outra fonte de vívidas imagens é o Preambleto the Constitution of the Industrial Workers of the World (Prefácio para a Constituição do IWW). Veja isto: “… estamos formando a estrutura da nova sociedade dentro da concha da antiga.”

Essas duas frases descrevem brilhantemente a categoria do capitalismo corporativo fomentado pelo estado. O capitalismo, como sistema histórico, tem quinhentos anos de idade ou mais e o estado esteve intimamente envolvido em sua formação e em sua contínua preservação desde bem no início. O estado, porém, tem estado muito mais envolvido, se tal coisa é possível, no modelo de capitalismo corporativo que tem prevalecido nos últimos 150 anos. Os titãs corporativos que dominam nossa vida econômica e política dificilmente conseguiriam sobreviver por um ano sem a contínua intervenção do estado no mercado para sustentá-los por meio de subsídios e proteções monopolistas.

Esse sistema está atingindo seus limites de sustentabilidade. Eis aqui alguns motivos:

1) Os monopólios do qual depende são cada vez mais obrigatórios. Especialmente a “propriedade intelectual”.
1a) A indústria baseada em direito autoral já perdeu a briga para acabar com o compartilhamento de arquivos.
1b) As patentes industriais só são sustentáveis quando a indústria de oligopólio, cadeias de varejo de oligopólio reduzem o custo de transação desse cumprimento — insustentável contra fábricas de garagem de bairro que usam arquivos CAD/CAM pirateados.

2) Ferramentas de produção baratas e eficientes em termos de solo e horticultura estão:
2a) aumentando a competição por parte do emprego autônomo
2b) reduzindo oportunidades de investimento lucrativo para o capital excedente e destruindo a taxa direta de lucro (TDDL).

3) Insumos de produção subsidiados pelo estado levam ao aumento em proporção geométrica da demanda por esses insumos, sobrepujando a capacidade do estado em fornecê-los e conduzi-los em crise fiscal crônica. Por séculos, o estado tem proporcionado ao agronegócio capitalista de larga escala com acesso privilegiado a terra roubada das classes trabalhadoras. Por 150 anos, ele tem subsidiado insumos tais como ferrovias, aeroportos e rodovias para transportes de longa distância e irrigação de água para fazendas de confinamento. Porém, como qualquer aluno de microeconomia poderia dizer-lhe, subsidiar algo significa que cada vez mais disso é consumido. Então você inicia o agronegócio que é ineficiente em seu uso da terra, da água e indústria que atinge falsas economias de escala ao produzir para áreas de mercado artificialmente extensas. A cada ano é preciso maior subsídio do governo para manter esse modelo de negócio lucrativo.

4) As tendências agravantes em relação a super-acumulação e a estagnação aumentam a quantidade de gastos deficitários crônicos necessários para a gerência da demanda agregada keynesiana, piorando também a crise fiscal. O estado tem construído um sólido complexo industrial-militar e criado outras indústrias completas sob o gasto estatal para absorver o excesso de capital de investimento e superar a tendência do sistema através de produção e capital excedentes, e tem sustentado déficits cada vez maiores só para impedir o colapso que de outra forma já teria ocorrido.

Em suma, o capitalismo depende de quantidades crescentes de intervenção do estado no mercado para a sua sobrevivência, e o sistema está atingindo o ponto no qual a teta seca.

O resultado é um sistema no qual governos e empresas estão cada vez mais esvaziados. E enquanto isso, está crescendo dentro desse “tegumento” capitalista corporativo coisas como software e cultura open source, projeto industrial open source, permacultura e microfábricas de garagem de baixo custo geral que engolem a viva economia estatal-corporativa. Uma parcela cada vez maior de trabalho e produção está desaparecendo dentro de economias elásticas relocalizadas, do emprego autônomo, de cooperativas de trabalhadores e da economia informal e doméstica. No final, eles vão criar esqueletos do dinossauro corporativo como um cardume de piranha.

Traduzido por Murilo Otávio Rodrigues Paes Leme. Revisado por Rodrigo Viana