Por Alex Prichard
Protestadores
nunca são um grupo homogêneo, mas aqueles que protestaram sob a
bandeira de anti-cortes na semana passada estavam unidos no ponto de vista de
que a mercantilização do ensino superior deveria ser combatida.
No entanto, de forma típica, a destruição de propriedade magicamente transformou um subconjunto considerável em “anarquistas” e deu um sinal verde para a rejeição geral de seus interesses.
É certamente verdade que anarquistas estavam entre os protestadores.
O
que é enganador é a suposição da mídia de que existe um
relacionamento generalizado entre anarquismo e violência. Anarquismo
é uma tradição muito mais rica e no ponto de vista do frenesi da
mídia, vale a pena refletir sobre o que significa.
A
aliança
dos partidos britânicos Conservador e Democratas Liberal
está procurando reverter o estado. Anarquistas querem isso também,
mas o governo está procurando reverter o estado e deixar as empresas
assumirem a negligencia, desse modo trazer um “livre mercado”
fictício em cada último recesso de nossas vidas. Isso é onde o
desacordo vive. Anarquistas defendem alternativas práticas tanto
para essa política neoliberal extremamente cruel e implacável quanto para o velho socialismo de estado do partido Trabalhista.
Gerar um mercado na educação beneficiará aqueles que querem fazer
dinheiro com isso. Sobretudo, isso irá incluir universidades e
empresas dirigidas ao lucro. Educação pela proposta de desenvolver
um senso de nosso potencial pessoal e social está ausente, enquanto
educação para um cheque de pagamento gordo está dentro: o governo
sai fora do exercício de seus papéis de balanço e amontoa os
custos aos estudantes. Os estudantes estão, na realidade, sendo
convidados a pagar universidades acima de 40 mil libras para uma
entrevista de emprego com um recrutador graduado. E se o seu
“investimento” no seu futuro não liquidar, o sistema irá alegar
como não tendo culpa: a responsabilidade é dos estudantes. Para
assumir que os interesses das empresas e da sociedade são os mesmo é utópico.
Porém
anarquistas não acreditam que o socialismo de estado é a única
alternativa para as desigualdades não democráticas produzidas pelo
neoliberalismo. Socializar propriedade não tem de significar
nacionalizá-la – que simplesmente iria substituir um conjunto de
patrões por outro. E quanto a genuína propriedade coletiva de
trabalhadores de indústrias e serviços; e quanto a universidades
democraticamente gerenciadas por acadêmicos, estudantes e quadro de
funcionário de apoio ao invés de, em grande parte, gerentes e
tecnocratas em excesso?
De
modo mais amplo, nós não poderíamos radicalizar o modelo
cooperativo e ter todas empresas democraticamente sob propriedade e
gerenciada por gerentes e trabalhadores? Não poderíamos expandir e
federar cooperativas mútuas e coletivas, de trabalhadores? O
movimento em prol da posse de torcedores de clubes de futebol é uma
indicação a mais de que esses tipos de alternativas funcionam. O desafio é pensar através de seu potencial e o anarquismo fornece tal quadro. Mas como
tudo isso difere da “grande sociedade”, você poderia perguntar? Em
suma, os partidários do Partido Conservador estão tentando
mutualizar o estado assistencialista em preparação para
privatizá-lo. Indivíduos serão responsabilizados, mas será dado nenhum poder. Associações de caridade, voluntária e
tudo mais serão permitidas organizarem um festival beneficente, mas as
estruturas neoliberais do poder não serão contestadas. Não faria
mais sentido começar por mutualizar os bancos?
Tal
como está, políticos conseguiram proteger os bancos enquanto todos os outros fazem um grande esforço. Como os cortes comprimem o pobre e o rico não
fica mais pobre, vai ficar claro a quem os interesses estão
sendo servidos. Como a militância de trabalhadores cresce e os
protestos se tornam mais frequentes, a demanda por estados cada vez
mais fortes e autoritários se tornarão mais barulhento, as
liberdades civis serão reduzidas (de novo) e aqueles no topo da
árvore nos dirão que eles tem algum direito especial.
Democracias
liberais modernas colhem a opinião de alguns adultos de idade de
votação uma vez a cada cinco anos como uma solução para a elite
pré-determinada barganhar. Quem votou para a coalizão partidária
Conservadora- Democratas Liberal? Quando os governos que são votados, em seguida, rotineiramente ignoram a vontade do povo, haver que além de guerras, custos ou minúcias de política, vemos a democracia
representativa moderna devido a farsa que é. Permitir protestos
somente na condição de que nunca irá apresentar uma contestação ao
governo é parte da mesma farsa. Porque essa falsa democracia não
funciona e os interesses dos anarquistas nunca poderiam ser representados por um partido político, ação direta é a tática de escolha. E ação direta é parte do processo de
criar democracia direta. Produz resultados por aumentar o perfil de
motivos e muitas vezes travando práticas que muitos contestam.
Bem
como uma tática, ação direta é também um meio para
auto-empoderamento. É um componente da sociedade que nós esperamos
criar, onde as pessoas tomam controle de suas vidas por suas próprias
mãos e confrontam as causas raiz de injustiças diretamente, sem
representantes. Isso, às vezes, inclui dano de propriedade, mas
anarquistas tomam seriamente as noções de liberdade e igualdade: de
que pessoas são capazes de falar e agir por elas mesmas e se tornam
até mesmo mais capazes através da prática ao invés da
representação.
A
ameaça a um mundo viável não vem dos anarquistas, mas dos
governos e do capitalismo. Antes da crise atual ser usada como uma
fachada para nos levar ainda mais fundo em um pesadelo neoliberal, vamos
reconsiderar as alternativas.
Traduzido por Rodrigo Viana. Para ler o artigo original clique aqui.
Alex Prichard é doutor em 'Relações políticas e internacional e estudos europeu' pela universidade de Loughborough. Ele é pesquisador e integra o grupo Anarchist Studies Network no Reino Unido.
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