Por Shawn P. Wilbur
Vamos abordar uma
questão controversa: o mutualismo é uma forma de “anarquismo de
mercado”?
É um tipo de questão
útil, apesar da resposta correta ser provavelmente “que
depende...”. Dado que o mutualismo possui suas raízes em um mundo
onde as distinções que tornam um rótulo como “anarquismo de
mercado” útil simplesmente não existia, distinções que podem
elas mesmas ir contra ao projeto mutualista “clássico”, é
tentador dizer “não”. Mas uma vez que estamos no processo de
redescobrimento e recriando o mutualismo em um mundo onde a questão
de “mercados” é de real importância, nós temos que resistir a
tentação.
Para aqueles
mutualistas que tem se mobilizado para a bandeira do
“anti-capitalismo de livre mercado”, e para quem o mutualismo é,
talvez em primeiro lugar, uma espécie de meio termo em um meio
social anarquista/ liberal libertário altamente polarizado, o rótulo
“anarquista de mercado” tem sido natural. Pegando sugestões do
anarquismo individualista de gente como Benjamin R. Tucker, e
enfatizando o controle monopolista de recursos e relações
econômicas fundamentais como a primeira coisa a ser superada, é um
passo fácil de falar (em Proudhon, por exemplo) sobre a dissolução
do domínio político inteiro no âmbito econômico, para tornar “o
mercado” a peça central de sua visão de uma sociedade livre. E
não há como negar o trabalho absolutamente crítico que tem sido
feito por anarquista de mercado anti-capitalistas para destacar as
diferenças entre “capitalismo” (seja em sua realidade existente,
forma histórica ou nas formas propostas e mais puras que ainda
parecem depender de algumas formas de privilégio) e “comércio”.
É também o caso de que certa resistência às relações de
“mercado” no anarquismo seja um pouco equivocada, baseada nas
mesmas narrativas históricas que tendem a tratar o mutualismo como um
tipo de “doença infantil”, em que os mercados aparecem como
evidência de que continua a ser “um pouco de capitalista”, ou
tentar fazer distinções firmes entre o mutualismo, entendido como
uma forma de “anarquismo social”, e as mais recentes formas de
movimentos pela liberdade favoráveis ao mercado. Se nós quisermos
discutir sobre quais as formas de anarquismo podem reivindicar ter
sido no início, é difícil excluir alguém como Anselme
Bellegarrigue que, afinal de tudo, caracterizava “A
Revolução” como “pura e simplesmente uma
questão de negócios”. Seu “primeiro manifesto anarquista”, a
partir da primeira edição de Anarchy:
A journal of order, é geralmente aceito
como uma importante declaração anarquista inicial.
Mas talvez exista
alguns bons motivos, ligando interesses clássicos e contemporâneos,
para recusar o rótulo de “anarquista de mercado”. Deixe-me
sugerir três.
- Sem dúvida, a análise dos mercados, que inicia com o reconhecimento de que nem todo comércio é redutível a “capitalismo”, não pára por aí. Quando começamos realmente a analisar os conceitos fundamentais associados aos mercados – afim de separar o que pertence ao “direito de aumento” capitalista e o que não pertence – nos encontramos diante de não apenas variedades de “mercados”, mas variedades de “lucro”, “concorrência”, etc. À medida que incorporamos o trabalho de sintetizar a economia política clássica com elementos da economia austríaca, cujo pioneiro tem sido Kevin Carson e outros, e redescobrir as formas em que figuras como Josiah Warren e Proudhon já incorporavam uma grande quantidade de valoração subjetiva bastante sofisticada em suas teorias, é quase certo que não é útil, em particular, tanto se apegar, quanto rejeitar, os “mercados” ou “o mercado” em um grupo. Então poderíamos rejeitar o rótulo “anarquista de mercado” afim de nos deixar um campo livre para aceitar ou rejeitar arranjos de mercado em uma base muito mais específica.
- Também é o caso de nos sobrecarregar com o rótulo “mercado”, que coloca uma ênfase especial em algum outro lugar que não no elemento que os mutualistas tem tradicionalmente considerado o aspecto realmente vital de sua abordagen: a mutualidade. Ao passo que ele era muito crítico em tempos tanto do “comunismo” quanto da “economia” de sua época, Proudhon estava defendendo algo em que “sintetizava” elementos de ambos, e o cerne de sua crítica parece ter ecoado a avaliação de “individualismo” e “socialismo” dado por Pierre Leroux. Tal como Leroux, Proudhon viu uma necessidade para equilibrar as tendências extremas – para, em essência, estabelecer um tipo de reciprocidade ou mutualidade entre extremos – afim de evitar uma oscilação constante entre polos proprietarista e comunista nas relações sociais. E o fundamento para estabelecer esse equilíbrio – o princípio sem qual os planos sem razão aparente dos reformadores e revolucionários foram, talvez, condenados a dar em nada, ou até terminar em algum estado oposto – foi uma aplicação consciente do princípio da mutualidade. Essa é a base em que nós iremos construir um mutualismo de bem sucedido e prático – e faz sentido evitar qualquer coisa que nos encoraje, ou aqueles que nos rodeiam. Imaginar algum outro mecanismo ou princípio é nosso foco real.
- O terceiro motivo para ficar com um pé atrás dos “mercados” é aquele que poderíamos facilmente aplicar para todas as instituições, até mesmo aqueles, como o “banco mútuo”, que tem sido nossos projetos exclusivos. Afinal de contas, existem sentidos importantes em que o mutualismo ainda é um pouco suspenso entre duas de suas eras de influência, e importantes aspectos do projeto mutualista clássico de que nós ainda temos que trazer pro presente, de qualquer forma muito útil. Um aspecto muito importante desse projeto, que nós temos até o momento que só se iniciou a se envolver, são as teorias de Proudhon de “força coletiva” e da natureza coletiva da individualidade, um corpo de teoria com implicações para qualquer teoria de direito mutualista, mas também para a análise mutualista de instituições. Outras escolas de anarquismo de mercado tem uma variedade de entendimento de como os mercados funcionam como ordens emergentes e, às vezes, como agentes virtuais e coletivos. Proudhon nos deu um outro conjunto de ferramentas para explorar estas questões, e para lançar um tipo de luz diferente nessa análise que eu estava falando de volta ao primeiro ponto. Existe também algumas questões gerais sobre a relação entre a circulação – certamente uma característica de mercado – e a concentração (como na propriedade, acumulação capitalista e etc.) que são, pelo menos, insinuadas na obra de Proudhon, o que pode dar-nos algumas ferramentas para orientar um mutualismo moderno dentro de um movimento anarquista, sem dúvida, rasgado em múltiplas direções por nossa falha de esclarecer a natureza dessa relação
Traduzido por
Rodrigo Viana. Para ler o original clique
aqui.
Shawn P. Wilbur é pesquisador, tradutor, professor e conferencista. Formado em História pela Oregon University, mantém um repleto arquivo virtual contendo trabalhos históricos de importantes nomes do anarquismo, socialismo, feminismo e outros.
2 comentários:
Nos Anarquistas adepitos do discernimento Organicista, cremos que o economico no anarquismo é o nosso estomago, portanto no anarquismo organicista o estmago tem um funcionamente que se relaciona diretamente com o externo. No anarquismo partiza o economico é considerado somente um nível de luta que pode se tornar uma ampla frente como foi na Revolução Espanhola. Aqui no Brasil temos açãoes economicas promovidas pelos anarquistas, são estas feiras anarquistas e em especial as feiras de livros anarquistas, temos oficinas de trabalhos autonomos de anarquistas e cooperativas anarquistas, temos frentes de trabalhadores na produção de leite de cabra para combater a desnutrição no nordeste. Portanto temos niveis e frentes já constituidas, onde o comercio é uma pratica no Anarquismo Brasileirio.
Livre mercado é para o organicismo beber coca cola, e mercado anarquista diferente de livre mercado é combater ingestão de bebidas como a coca cola e aderir ao vegetarianismo militante.
Para nos tem uma diferença entre Livre Mercado e Mercado Anarquista. Porem aqui a tempos temos mercados Anarquistas, feiras formadas somente por anarquistas, com produtos feitos pelos anarquistas de forma autonoma ou cooperativada, mais todos os produtos são de não exploração humana e de não exploração animal.
Se quiserem saber mais nosso contato é: partidoanarquistainternacioanal@gamil.com
Agradecemos o contato deixado Ed PAI. Ao que parece, o que você chama de mercado anarquista é o que nós mutualistas chamamos de "mercado liberto" ou "livre mercado anti-capitalista".
Até mais.
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