quarta-feira, 29 de outubro de 2014

“Isso não é capitalismo”



Por A Division by Zer0

É um tema recorrente nos últimos tempos que sempre que alguém vai apontar sofrimento e coisas geralmente ruins acontecendo por causa do Capitalismo, os apologistas ultraliberais irão surgir e dizer que “Isso não é Capitalismo”. Eles irão alegar que o governo desempenhou um papel grande demais e por isso nós não podemos, de fato, considerar isso uma falha do sistema em si, mas deve pôr toda a culpa na intervenção do governo[1].

Isso está começando  a ficar bastante chato, então acho que é hora de explicar por que eu considero que isso não é uma falácia do escocês verdadeira.

Primeiramente, 'Capitalismo', como uma palavra sendo bastante recente, somente entrou no vocabulário principal no início do século vinte por Werner Sombart, uma marxista que usava a palavra em sua crítica do sistema. Antes disso, o uso da palavra tinha sido esporádico e em variantes de raiz, com o mais importante sendo pelo próprio Karl Marx que escreveu sobretudo o modo de Produção Capitalista.

Esse conceito tem sido ampliado no século passado para significar um sistema econômico completo cujo a característica central é o mesmo modo Capitalista de produção que Marx criticava com precisão. Secundário a isso é a situação sócio-política no qual este modo de produção existe. Isso pode variar do imperialismo autoritário (Fascismo) ao minarquismo ultraliberal (O 'Ultraliberalismo' Americano)

Todos estes ainda são Capitalismo. Os meios de produção (fábricas, terra, trabalho) ainda são possuídas privadamente e a única coisa que muda é o grau de liberdade política e interferência do estado. Mas o grau em que estes dois parâmetros oscilam não tem nada a ver se o sistema é capitalista ou não.

A Escola Austríaca de Economia é, naturalmente, os denunciadores mais fanáticos desta ideia. Para eles, enquanto o Capitalismo não for absolutamente livre de qualquer governo, ele não pode ser chamado como tal (Mercantilismo é, aparentemente, a palavra mais correta). Algo que é, claro, completamente sem sentido. Mesmo sob o sistema mais orientado ao bem-estar social, o modo de produção ainda permanece em mãos de proprietários privados e, assim, a característica principal é cumprida. Para argumentar o contrário é similar a alegar que alguém não é escocês porque ele põe açúcar em seu mingau.

Os apologistas do Capitalismo de todas as escolas de pensamento, ainda que dizendo que existe restrição demais sobre o Capital ou que não existe restrição o bastante sobre o Capital, irão avidamente pôr a culpar pelo sofrimento humano dentro dos países capitalistas em qualquer outra coisa exceto o próprio sistema econômico. É muita intervenção estatal. Ou muita expansão de crédito. Ou freios e contrapesos não suficientes. Ou muita ganância. Ou muita Corrupção. Ou muita destruição ambiental. Qualquer coisa que seja. Culpar tudo que se tem direito, exceto o Capitalismo.

E ainda vemos o mesmo sofrimento e destruição ocorrendo dentro de qualquer sistema capitalista, mais cedo ou mais tarde. Quer isso seja a Maravilha de Livre Mercado do Chile, o Crescente Crescimento da Índia ou o Capitalismo de Estado da União Soviética. Não importa o quão muito ou pouca intervenção governamental existe no mercado, as mesmas crises acontecem, pobreza e fome permanecem e pessoas sofrem. E a única coisa que se mantém constante, o único denominador comum é o modo de produção Capitalista.

Isso é Capitalismo.


Nota:
[1] A hipocrisia que ganha de todas, claro, é quando as mesmas pessoas irão culpar todo o sofrimento da União Soviética, Coréia do Norte e China diretamente sobre o Comunismo sem estar disposto a reconhecer qualquer outro fator que não seja como aquelas nações se definiram.

Traduzido por Rodrigo Viana. Para ler o artigo original clique aqui.


A Divided by Zer0 é desenvolvedor de jogos e blogueiro.

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Um comentário:

Anônimo disse...

Expansão de crédito de um cartel bancário estatal, entre capitalismo e socialismo, está mais pra socialismo.

Este foi um dos motivos citados no meio do artigo, junto com outros motivos, uns mais bestas outros menos.

É como olhar pra uma família e querer enxergá-la como uma família feliz. O austríaco chega e fala: "Mas ela é estuprada todo dia, isso nem é uma família", e um zé chega falando que isso é uma família sim, e que a moça é infeliz.

Enfim, artigo doente e desonesto.

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